15 de outubro de 2012

QUANDO O MUNDO ESTEVE À BEIRA DA GUERRA NUCLEAR - Alexandra Dibijeva

RIA Novosti
Em outubro, a Crise do Caribe de 1962 completa 50 anos. Sobre este acontecimento, diz-se que o mundo esteve, na altura, à beira de uma guerra nuclear. O cálculo era de horas.

Em resposta à instalação de mísseis russos em Cuba, os americanos estavam dispostos a começar as operações de guerra. E justamente graças ao programa da Rádio Moscou Internacional (atualmente Voz da Rússia), nos EUA ouviam a mensagem da direção soviética com propostas construtivas. Em entrevista à Voz da Rússia o conhecido observador político e escritor, Valentin Zorin, veterano do jornalismo de rádio e televisão russas, contou sobre os acontecimentos daqueles dias.

Os primeiros sinais de tensão entre as duas potências surgiram em junho de 1961. O então dirigente da URSS, Nikita Khrushov, pela primeira vez se encontrou com o novo presidente dos EUA, John Kennedy, em Viena. Eles debateram questões sobre o estabelecimento de fronteiras na Alemanha e sobre desarmamento nuclear. Os EUA queriam a proibição de seus testes. Entretanto, Khrushov não levou Kennedy a sério, chamando-o de “moleque” pelas costas e conversando com ele em tom de sermão. Valentin Zorin, que acompanhou o líder soviético, recorda:

"Depois do primeiro dia de conversações nós quatro nos sentamos à noite num pequeno bar em nosso andar. De repente abriu-se a porta e entrou Khrushov excitado. Era evidente que ele queria se abrir, então não se costumava realizar conferência de imprensa. E ele começou a nos contar. Foi uma grande sorte – nós anotamos de primeira mão tudo o que ele disse. E Khrushov terminou assim: “Sabem, rapazes, o presidente é jovem, “verde”. Farei com ele o que quiser."

Justamente depois deste encontro Khrushov consolidou sua decisão de instalar mísseis em Cuba. No verão de 1962, foram instalados 42 mísseis com ogivas nucleares e bombardeiros na ilha. Mas quando o serviço secreto americano informou sobre a presença de mísseis soviéticos perto dos EUA, começaram longas e difíceis conversações.

O ponto culminante da crise foi o “sábado negro”, 27 de outubro, quando um dos aviões-espiões americanos foi abatido sobre Cuba e seu piloto morreu. Os americanos já estavam dispostos a ações decisivas – recorda Valentin Zorin:

“Naquela época eu estava em Washington e fui testemunha da situação muito tensa lá. Através de meus contatos e colegas eu soube que o círculo do presidente, inclusive seu irmão Robert Kennedy, insistiam em um ataque imediato contra os mísseis em Cuba e também contra os navios soviéticos, e se os navios continuassem a navegar em direção a Cuba. Pode imaginar o que seria tal ataque contra nossos mísseis? Sendo que não apenas mísseis, mas mísseis com recheio nuclear. E adiante? Está claro o que poderia acontecer adiante. Esses foram dias muito tensos. Eu até mesmo diria que nos EUA, na época, havia uma atmosfera de histeria de guerra, sendo que não apenas na elite governante.”

A parte soviética tinha de tomar uma decisão imediata. Por canais diplomáticos demoraria muito a transmitir informações. Usaram as emissões internacionais – a Rádio Moscou internacional, da qual a Voz da Rússia é sucessora. Valentin Zorin lembra:

“À noite tocou o telefone no meu quarto de hotel em Washington. Colegas da redação disseram que dentro de meia-hora a rádio transmitiria um comunicado de extraordinária importância. E pediram para que eu, usando meus contatos, telefonasse imediatamente para os colegas americanos na televisão, na redação para que eles ligassem a Rádio Moscou, porque na América nem todos ouviam a Rádio Moscou. Desse modo eu fui um pequeno elo na corrente. A transmissão da Rádio Moscou foi ao ar meia hora depois. Em 27 de outubro de 1962 a declaração do governo soviético foi transmitida pela rádio antes que fosse recebida oficialmente em Washington.

A televisão, todos os canais federais dos EUA interromperam os programas e transmitiram o comunicado urgente, que dizia:

“Nós concordamos em retirar de Cuba os meios que consideram ofensivos. Concordamos em fazer isto e declarar na ONU este compromisso. Seus representantes farão uma declaração de que os EUA, considerando a inquietação e preocupação do Estado soviético, retirarão seus meios análogos da Turquia”.

Todos os meios de informação de massas publicaram imediatamente esta mensagem. Os jornais americanos publicaram imediatamente números extras e o comunicado, transmitido pela Rádio Moscou, tornou-se conhecido de todos. A tensão diminuiu e a crise passou.

Depois da Crise dos Mísseis, entre a Casa Branca e o Kremlin foi estabelecida uma linha telefônica direta. Através do chamado “telefone vermelho” (red phone) Moscou e Washington puderam trocar, a tempo e rapidamente, comunicados codificados.

Extraído do sítio Voz da Rússia

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