14 de março de 2013

MINIATURAS DE PALEKH EM VIAS DE EXTINÇÃO - Tatiana Khorotchilova

Objetos fabricados exclusivamente na vila russa de Palekh sofrem com falta de jovens artistas e queda nas encomendas. Os pintores locais se voltaram à pintura de ícones, tradicional ofício local que foi proibido após a Revolução Russa de 1917, ou à falsificação de miniaturas laqueadas.


Chegar à vila de Palekh, situada a 320 km de Moscou, equivale a voar da capital russa a Pequim. Isso porque a viagem não só combina diferentes meios de transporte, mas leva de 9 a 10 horas.

Dos 6 mil moradores locais, 10% são pintores e os segredos do ofício são transmitidos de geração em geração. A vila surgiu no século 15 às margens do rio Palechka e ficou conhecida por suas oficinas de iconografia, que se tornaram referência nacional.

Apreciados por sua beleza e muitos detalhes, os ícones de Palekh podem ser inclusive encontrados nas Catedrais do Kremlin de Moscou e do Mosteiro de Santíssima Trindade e São Sérgio em Serguiev-Possad, a 70 km da capital.

Porém, após a Revolução Russa de 1917 e a consequente redefinição do papel da prática religiosa na sociedade, os pintores locais foram obrigados a buscar novas formas de aplicar seu talento e se dedicaram à pintura de colheres de pau, matriochkas, caixinhas de papel machê, louças etc.

Em 1923, um grupo de pintores de Palekh apresentou uma coleção de caixinhas e pratos de madeira inspirados em canções populares russas e pintados no estilo iconográfico. Com o tempo, as obras de Palekh começaram a ser vendidas no exterior e geraram receita ao país.

No ano seguinte, a vila ganhou uma escola de pintura e, em 1935, um museu que reuniu uma coleção valiosa de ícones, miniaturas em laca, obras gráficas e pinturas.

“A fabricação de caixas de papel machê é um processo longo e trabalhoso”, conta Víktor Paramonov, presidente da Associação de Pintores de Palekh, que reúne atualmente 120 profissionais. “Tudo é feito à mão. As pinturas são feitas com uma lupa e nenhuma caixinha é igual a outra”, continua Paramonov.

“Infelizmente, o governo não encomenda mais miniaturas de Palekh. Cerca de 80 a 90% das vendas são feitas no mercado paralelo onde circulam produtos falsificados ou obras reprovadas pelo Conselho de Qualidade. A lei contra a pirataria não está funcionando”, desabafa o responsável.

Pássaro de fogo

A sucursal de Palekh da União de Artistas Plásticos da Rússia completa 60 anos e a intenção é comemorar a data com uma exposição. No entanto, o presidente da sucursal, Vassíli Makatchov, tem receio de que não conseguirá reunir obras em quantidade suficiente para organizar o evento. 

“Dos velhos mestres restam apenas cinco. Os jovens pintores se reúnem em equipes e vão a outros locais para pintar igrejas, voltando a cumprir o ofício tradicional de seus antepassados”, diz Makatchov.


Tudo começou a ruir em 1989. Na época soviética, os pintores de Palekh eram os mais prósperos da União de Artistas Plásticos da URSS. Hoje em dia, as oficinas estão em ruínas, com janelas quebradas, pisos e sistemas de calefação desmontados.

Como o salário na Associação de Pintores de Palekh pode chegar a apenas 5 mil rublos por mês (cerca de R$ 330), raros são os casos de artistas interessados em trabalhar na região.

Um em cada dez moradores da vila foi formado pela escola de pintura local e o país tem apenas duas escolas desse tipo. Atualmente a escola forma 16 profissionais por ano, mas a duração do curso de formação foi reduzida por causa do corte do fundo de bolsas.

“A principal coisa para nós é preservar a arte em vez de descer à fabricação de souvenirs. Precisamos melhorar a qualidade de ensino para que os jovens profissionais formados por nossa escola possam ressuscitar a arte de miniaturas de Palekh no futuro”, afirma o diretor da escola de pintura de Palekh, Mikhail Beloussov.

A oficina Iconóstase de Palekh é o principal empregador da região nos dias de hoje. A ideia é construir um centro comercial e de entretenimento nos arredores da escola, onde haverá restaurantes, cafés e uma loja de souvenirs com o letreiro “Palekh é a terra natal do Pássaro de Fogo”, que venderá miniaturas com pinturas primitivas.

Extraído do sítio Gazeta Russa

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