8 de março de 2013

COMPANHIA VINÍCOLA GAÚCHA - PARTE I - NASCE O MITO - Sérgio Inglez de Souza

O início da história

A década de 1920 foi caracterizada por grande desunião no seio do setor vitivinícola gaúcho, com brigas intermináveis e desentendimentos crônicos entre as principais lideranças, além da concorrência desleal e suicida entre as vinícolas. Altas e descontroladas produções associadas às práticas de preços aviltados - esta a receita para a grande crise.


As autoridades gaúchas, preocupadas, promoveram reuniões, discussões e induziram 41 vinícolas a se unirem em torno de uma instituição comum, o Syndicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, consolidado no final de 1928. Era a tentativa de unir a vitivinicultura gaúcha.

O governo estadual, através de decreto, criou o primeiro instrumento legal para fortalecer o Syndicato e atrair o setor em torno dele, impondo a obrigatoriedade de exames bromatológicos dos vinhos a serem comercializados, expediente pago e somente realizado através desta instituição. 

Esse dispositivo legal deu-lhe força de órgão estatal e passou a privilegiar com custo zero seus associados aderentes, em detrimento daqueles muitos que optaram por ficar de fora e que teriam que pagar a cada exame solicitado. Com isso a desunião e os embates aumentaram dentro do setor.

Finalmente, devido às artimanhas oficiais e em decorrência do medo de serem engolidos pela séria crise que grassava na Serra Gaúcha, em 1929 foi formada a Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda., agora reunindo 49 vinícolas, para garantir a aglutinação dos negociantes de vinho da região nesta grande sociedade que permitiria a imposição dos interesses do Governo Estadual para "sanear o setor". 

Conflitos e mais conflitos

A Sociedade Vinícola Rio-Grandense, nome original da Companhia Vinícola Rio-Grandense, foi um braço importante de atuação comercial do Syndicato, que o eximia de atuar diretamente nas desgastantes querelas comerciais. 

Não seria tarefa simples pois envolvia um trabalho insano e que exigiria grande habilidade de negociação para alcançar o milagre de aproximar posições historicamente antagônicas, ajustar interesses conflitantes e curar feridas profundas de rixas anteriores. 

Em 1929, a Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. deu início às suas atividades fundamentais, comercializando e homogeneizando o estoque dos comerciantes, dos produtores fundadores e dos demais que abdicaram da venda direta ao mercado e, com isso, não pagar a taxa bromatológica que recaia sobre o vinho dos comerciantes independentes.

A sua atuação não pacificou o setor, pelo contrário, acirrou os desentendimentos e os embates, criando dois blocos distintos na vitivinicultura gaúcha: Sociedade Vinícola de um lado, vinícolas independentes do outro que, aos poucos, foram se associando em grupos, dando origem às Cooperativas Vinícolas.

* Sérgio Inglez de Souza é editor do blog Todovinho, ex-presidente da SBAV, escritor e um dos especialistas em vinhos mais respeitados do Brasil.

Extraído do sítio Enoeventos

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