4 de junho de 2013

PAVILHÃO BRASILEIRO EM VENEZA UNE ARTE CONTEMPORÂNEA A REFLEXÃO HISTÓRICA - Marco Sanchez


Sob curadoria do venezuelano Luiz Pérez-Oramas, espaço dedicado ao Brasil na Bienal de Veneza procura mostrar toda a diversidade atual da arte contemporânea do país, sem esquecer contribuições do passado.

Construir uma mostra que represente o conjunto das obras de artistas brasileiros foi o critério que o venezuelano Luiz Pérez-Oramas usou para selecionar os artistas que integram o pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza desse ano.

Com curadoria de Massimiliano Gioni, a 55º Bienal de Veneza recebeu o título de O Palácio Enciclopédico e indaga sobre o domínio da imaginação. O evento começou no sábado (01/06) e vai até dia 24 de novembro. 

Buscando levar a Veneza produções de artistas brasileiros contemporâneos de peso, o pavilhão brasileiro é ancorado pelos artistas Hélio Fervenza e Odires Mlászho, que foram convidados a produzir obras inéditas para a exposição.

Exposição busca mostrar a arte em um contexto histórico
Dentro / Fora foi o título dado para a mostra que representa o Brasil em Veneza e se refere implicitamente à questão da fita de Möbius – uma estrutura estudada por August Ferdinand Möbius em 1858 e objeto de coordenação da exposição – de grande relevância para a arte brasileira moderna e contemporânea, como exemplificado pela obra de Lygia Clark, uma das pontuações históricas do pavilhão brasileiro.

No entanto, o eixo e o corpo principal dos trabalhos são dos brasileiros Fervenza e Mlászho. "Eles manifestaram um eco de seus trabalhos na última Bienal de São Paulo, que é articular arte contemporânea com uma reflexão histórica, que se abre no que eu chamo de 'densidade histórica do presente' e que tem em sua estrutura um caráter constelar", disse o curador Luiz Pérez-Oramas em entrevista à DW Brasil.

Reforçar as vozes dos artistas brasileiros

A mais antiga das grandes exposições internacionais, a Bienal de Veneza exibe, a cada dois anos, uma grande exposição coletiva e dezenas de pavilhões nacionais. O pavilhão brasileiro foi construído em 1964 no mais prestigioso espaço do evento italiano, o Giardini. Em 1995, a curadoria do pavilhão foi concedida pelo governo brasileiro à Fundação Bienal de São Paulo, em reconhecimento à grande importância da instituição para as artes visuais no país e no exterior.

Escultura com livros de Odires Mlászho
"Eu queria um sistema aberto, onde pudesse vincular diferentes obras. A constelação histórica das obras de Lygia Clark, Max Bill e Bruno Murano estava presente em São Paulo. Ali, Clark e Bill, acolhiam um estrangeiro, Munari. Aqui em Veneza, o italiano Murani é o convidado em nosso pavilhão. Pela primeira vez o pavilhão se abre para artistas que não são brasileiros", explicou Pérez-Oramas.

O pavilhão é uma extensão do conceito iniciado na Bienal de São Paulo. Uma iniciativa que não só promove a instituição para o mundo das artes, mas também acha uma maneira relevante e atual para reforçar as vozes dos artistas contemporâneos brasileiros em uma escala global.

Diversidade em forma e conteúdo

A mostra brasileira representa, segundo Pérez-Oramas, "um aspecto de produção e do pensamento artístico brasileiro e não tem que ter uma relação com o tema da Bienal de Veneza". Pérez-Oramas prefere não dividir arte por temas. "Nossa Bienal não tinha um tema e foi organizada através de motivos. Com relação ao que fizemos em São Paulo, acredito que existam ecos muito interessantes entre o que eu vi aqui e o que Massimiliano Giono propõe para Veneza nesse ano. São dois eventos totalmente distintos, mas que respiram o mesmo ar intelectual", completou.

Para o curador, em ambas as mostras prevalecem os sistemas de imagens sobre obras únicas, assim como a ideia de quebrar com a clausura de "especialistas" da arte contemporânea, criando diálogos com elementos externos ao mundo da arte.

Hélio Fervenza leva instalação de grande porte a Veneza
Ambas as mostras também partem da ideia de "museus temporários". "Um museu temporário é ideal para um pensamento distinto e para conhecer as extraordinárias obras dos artistas brasileiros. Fervenza e Mlászho são totalmente desconhecidos fora do Brasil", disse Pérez-Oramas.

O pavilhão apresenta diversidade na forma e no conteúdo artístico. "Há uma obra de Max Bill que dialoga com obras tridimensionais. Há a obra Mole de Lygia Clark e um objeto suspenso de Munari concebido em 1946, que considero como um marco fundamental na prática da instalação. O trabalho de Bill é um marco na história do Brasil de uma forma que, paradoxalmente, desestabiliza a ideia de forma, tanto quanto ele desestabiliza a certeza do que é dentro e fora", explicou o curador, "Nunca faço uma curadoria baseada em categorias, como escultura, vídeo ou pintura. A única coisa que me interessa na arte é sua materialidade mutante, hibrida e necessária".

Trabalhos inéditos

Dividida em duas atmosferas, a exposição tem uma sala onde as linhas de Möbius são o centro, o sol da constelação de 35 novos trabalhos desenvolvidos por Fervenza e por Mlászho especialmente para a mostra em Veneza.

O pavilhão oficial do Brasil é ancorado no trabalho de Hélio Fervenza e de Odires Mlászho e dialoga com núcleos compostos por esculturas da brasileira Lígia Clark, do italiano Bruno Munari e do suíço Max Bill.

Odires Mlászho utiliza impressões digitais em seus trabalhos
Na obra inédita dos dois artistas brasileiros prevalecem as imagens digitalmente tratadas e a fotografia. "No total, são 50 obras com esse caráter, assim como instalações no espaço expositivo e readymades, para usar uma terminologia de Duchamp, que se pode aplicar às montagens de livros feitas por Mlászho", disse o curador. 

Mlászho traz duas novas séries para Veneza. Pontos Cegos Móveis eVozes nas Cortinas, esta centrada em impressões digitais feitas em papel japonês que contém letras e padrões de pontos. Ele também está testando novas variações de suas esculturas feitas com livros, chamadas de Livros Cegos. Fervenza utiliza o pé direito de quase sete metros do pavilhão brasileiro para a instalação (peixe,sombra) dentrofora (do céu da boca) d'água ( , ) que utiliza fotos e fios metálicos. 

"Estou orgulhoso e grato por ter sido convidado para curar a Bienal em São Paulo. Conheço a arte brasileira e visito frequentemente o país desde o começo dos anos 1990, mas não me considero um especialista", disse Pérez-Oramas. 

"O destino natural de qualquer sociedade humana dá aos meios a liberdade de produzir uma imensa diversidade cultural. Esse é o caso do Brasil e outras nações do mundo. Quanto a uma perspectiva nacional, prefiro pensar na transnacionalidade. Essa é a única maneira de impedir que o mundo 'supostamente global' se torne um inferno", concluiu o venezuelano.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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