10 de agosto de 2013

VINÍCOLAS ESPERAM MELHORA DO MERCADO NO SEGUNDO SEMESTRE - Juliana Ribeiro


A retração da economia e a desaceleração do consumo afetaram as vendas em diversos setores no Brasil e com o segmento de vinhos não foi diferente. No primeiro semestre do ano, as vendas registraram aumento de apenas 2,54%, graças ao pequeno crescimento na demanda pelos vinhos de mesa e, em outra ponta, na demanda por suco de uva. No total, o volume comercializado entre janeiro e junho chegou a 107,9 milhões de litros ante 105,2 milhões de litros do mesmo período de 2012. “O desempenho do setor no primeiro semestre foi, em grande parte, impactado pelo cenário econômico. Outros segmentos de bebidas também sofreram efeito semelhante”, explica Alceu Dalle Molle, presidente do conselho do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

Para a Coperativa Vinícola Garibaldi, localizada na Serra Gaúcha, o primeiro semestre deste ano foi, de fato, bastante parecido com o período de 2012, segundo explica Alexandre Angonezi diretor administrativo da empresa. “As vendas de vinhos de mesa, finos e espumantes se mantiveram, mas o mercado de suco de uva cresceu”, explica o executivo. Segundo ele, as vendas de suco de uva do mercado brasileiro no primeiro semestre cresceram cerca de 40%, “mas aqui na Garibaldi, nossas vendas superaram esse percentual”, calcula.

Angonezi acredita que, no médio prazo, a demanda por suco deverá crescer ainda mais, já que, em julho, uma reunião entre membros do Ministério da Agricultura (Mapa), representantes das indústrias de sucos e néctares e dos produtores de sucos de uva e laranja se reuniram e acertaram o aumento gradativo do percentual de suco integral nos néctares, passando de 30% para 50% nos próximos meses. “Nós produzimos suco de uva integral, mas um pequeno percentual, cerca de 5%, é o suco vendido para as misturadoras”, explica.

O executivo acredita que, para este segundo semestre, haja um incremento na venda de espumantes, uma vez que, segundo ele, a bebida tem aumentos sazonais de vendas com as festas de fim de ano, “embora aos poucos o consumo da bebida tenha se difundido em outros períodos do ano no País. Esperamos crescimento de 10% no mercado desse produto ao longo do ano”, diz Angonezi. Para os vinhos finos e de mesa, no entanto, o executivo acredita que o cenário continuará o mesmo.

Importados x nacionais

Dalle Molle, do Ibravin, explica que a entrada de vinhos importados também diminuiu no primeiro semestre do ano. Em 2012, o setor vitivinícola brasileiro entrou com um pedido de salvaguarda junto ao governo federal, alegando prejuízos com a alta competitividade dos produtos importados no Brasil, que ainda hoje respondem por 80% do mercado nacional, ante 20% dos produtos fabricados por aqui.

O pedido foi retirado mediante um acordo entre importadores, distribuidores, vinícolas e varejo, de aumentar gradativamente o percentual de vinhos brasileiros nas gôndolas e no mercado. A expectativa era de que, até o final deste ano, os rótulos nacionais já respondessem por 27% desse mercado, “mas com esse cenário de pouco crescimento, teremos que rever esses números”, explica Dalle Molle. A meta do mercado brasileiro de vinhos era comercializar cerca de 25 milhões de litros neste ano, ante cerca de 19 milhões de litros vendidos em 2012.

Segundo o presidente do conselho do Ibravin, o dólar alto nos últimos meses tem ajudado os fabricantes brasileiros, já que os rótulos importados ficaram mais caros com a moeda brasileira desvalorizada. “Mesmo diante desse cenário, temos a expectativa de uma melhora da economia neste segundo semestre”, afirma Dalle Molle.

Pequenas crescem

Uma nova leva de pequenas vinícolas tem ajudado a dinamizar o mercado brasileiro de vinhos. Uma delas, a Campos de Cima, começou a operar em 2009, com seu primeiro rótulo e nesse primeiro semestre já cresceu cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. “Mas acredito que esse crescimento mais acelerado se deva pelo fato de estarmos há menos tempo no mercado”, explica Pedro Candelária, diretor de marketing da empresa.

A Campos de Cima está localizada na região da Campanha Gaúcha, uma área que tem atraído novos investimentos do setor. O clima mais quente e sua proximidade com a fronteira do Uruguai e da Argentina fez com que fossem adotadas algumas outras variedades de uvas até então pouco cultivadas na Serra Gaúcha, como a Ruby Cabernet – um cruzamento criado na Califórnia, a partir das uvas Cabernet Sauvignon e Carmenére e a uva Malbec, bastante tradicional na Argentina.

Assim como Angonezi, Candelária também vê uma redução da sazonalidade no consumo dos espumantes brasileiros. “Hoje em dia a bebida já está presente em aniversários, eventos empresariais e até em em eventos maios familiares; aos poucos vai caindo no gosto do brasileiro”, diz. A Campos de Cima vem apostando na bebida e o retorno tem sido satisfatório, tanto que dois de seus rótulos de espumantes já receberam diversos prêmios dentro e fora do Brasil.

Marketing do vinho

Com o intuito de popularizar o consumo de vinhos e espumantes e incrementar as vendas de tais produtos no mercado brasileiro, o Ibravin vem fazendo uma campanha de divulgação dos benefícios do consumo da bebida e de sua versatilidade para combinar com qualquer ocasião. Prova disso foi o patrocínio em parceria a Verallia, além da Tetra Pak e as vinícolas Aurora, Cereser, Góes, Greenday, Perini e Salton do desfile da escola de samba paulistana Vai-Vai, que contou a história da bebida na avenida, desde a Idade Média até os dias atuais. “Ações como essa aproximam a bebida do público brasileiro. O consumo de vinho anual no Brasil é de 2 litros per capita, enquanto em países da Europa, onde a bebida é mais tradicional, o volume chega a 20 litros por pessoa por ano. Temos muito potencial para crescer”, avalia Angonezi, da Garibaldi.

Para Dalle Molle, do Ibravin, ações para promover a bebida brasileira ajudam a desmistificar a aura de sofisticação que acabou por se criar em torno da bebida. “Ao levar o vinho para o carnaval, feiras e outros eventos, nós popularizamos o seu consumo e mostramos que além de qualidade, a bebida brasileira combina com várias ocasiões”, diz.

Vendas pela web

E no quesito popularização do consumo de vinho, a internet também tem sido uma importante ferramenta, ao oferecer para clientes de todo o Brasil oportunidades de comprar rótulos variados por preços e condições mais atrativas.

Um exemplo do crescimento desse mercado está na Compre Vinhos, que em pouco mais de cinco meses de existência já conquistou seu lugar como a maior loja de e-commerce da região Sul do Brasil. O projeto é uma iniciativa do empresário Rafael Zardo, de Bento Gonçalves (RS) e do atual técnico do Fluminense, Vanderlei Luxemburgo. Atualmente, 90% das vendas são feitas para o Sul, mas a ideia dos investidores é ampliar o mercado para todo o Brasil nos próximos meses.

Para tanto, a empresa mantém como ponto forte de sua estratégia comercial o preço que chega a ser 85% inferior do que a concorrência. A vantagem competitiva se dá pelo fato de Zardo já atuar como representante de sete fabricantes internacionais no mercado brasileiro. Além disso, a empresa não cobra o frete para o envio de seus produtos. Trabalhamos com uma boa margem e, mesmo assim, temos preços altamente competitivos. “Queremos democratizar o consumo de vinho no Brasil, cobrando valores mais compatíveis com o mercado internacional”, observa Zardo.

* Originalmente publicado em Sou Agro.

Extraído do sítio Cenário MT

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