14 de agosto de 2013

CUBA LIBRO. UM COCKTAIL DE LETRAS EM INGLÊS SERVIDO EM HAVANA


Um café e livraria de portas abertas em Cuba, a primeira com literatura na língua de Shakespeare (ou melhor, de Faulkner, Poe, Twain ou Whitman). 

Rum, cola e lima. No começo do século xx, reza a lenda - incerta como o desfecho de uma longa noite frente ao balcão de um bar - foi criado o famoso cocktail que celebra a independência de Cuba em relação a Espanha. Desde sexta-feira, a ilha caribenha saboreia uma estreia com um paladar não menos refrescante. Depois de cuba libre, Cuba Libro, a primeira livraria e café que serve livros em língua inglesa. "Sabia que era difícil conseguir fontes em inglês, daí ter começado a cozinhar a ideia", explicou Conner Gorry à Associated Press, que conta a história.

A novidade patrocinada pela nova-iorquina, uma num grupo de mais cinco sócios, de origem cubana, apanhou a boleia das reformas económicas e sociais promovidas por Raul Castro, que nos últimos tempos tem legalizado a abertura de pequenos negócios confiados à iniciativa privada. Ao mesmo tempo, a cooperativa não oficial que apoia Conner evita-lhe furar o velho embargo imposto por Washington, que barra as transacções financeiras entre cidadãos norte-americanos e o governo cubano.

O projecto revolucionário está longe de ser uma contra-revolução em marcha, assegura a jornalista de 43 anos, fixada em Cuba desde 2002. A selecção de títulos, difícil de engrossar, é bastante modesta, para não falar da actualidade - ou falta dela - dos títulos disponíveis. Como descreve o artigo da agência de notícias, o recheio da Cuba Libro serviria para encher pouco mais que o lóbi de qualquer bed&breakfast do Vermont, mas comparado com a literatura em inglês que se encontra em Havana é como falar de um projecto com a dimensão da Biblioteca do Congresso.

Pouco é sempre melhor que o limitado cardápio oferecido por um país onde o governo assegura o controlo da generalidade dos meios de comunicação, e onde os escaparates sob alçada estatal se dedicam à língua inglesa em contextos muito particulares. É o caso dos romances cubanos traduzidos, de dois jornais semanais que apregoam as virtudes do castrismo, de revistas inócuas para turistas, de ensaios de Che Guevara e Fidel Castro e de literatura avulsa anti-EUA.

Timidamente, a colecção da Cuba Libro apresenta alguns conteúdos que dificilmente teriam lugar na eucaristia televisiva da hora do jantar. Aqui encontra "Dancing with Cuba", livro de memórias da jornalista mexicana Alma Guillermoprieto, professora de ballet em Cuba nos anos 70. Entre edições antigas da "New Yorker" ou da "Rolling Stone", os leitores cruzam-se com a "ReVista", a "Harvard Review" para a América Latina de de 2010, tanto esbanja simpatia com o venezuelano Hugo Chávez, eterno aliado de Havana, como inclui um ensaio crítico de Teodoro Petkoff, que não poupa o regime "autoritário, autocrático e militarista" do falecido presidente. Por aqui também dá de caras com "Freefall", obra de 2011 do Nobel Joseph E. Stiglitz, que apesar de prescrever o reforço da regulação na selva capitalista não deixa de ser uma lufada de ar fresco num território onde o tema do mercado livre pode ser tão indigesto como emborcar cinco cubas livres de seguida.

O conceito da livraria e salão literário começou a ser pensado há dois anos, quando uma amiga de Gorry se quis desfazer de 35 livros. Foi a primeira doação para a casa, que no dia na inauguração já tinha uns 300 volumes, mercê deste sistema de ofertas que apela à boa vontade de estrangeiros e diplomatas.

Além dos livros, que passarão a estar disponíveis em regime de empréstimo para quem não os puder comprar, o espaço deverá acolher em breve aulas de inglês, uma ferramenta procurada por cubanos cujo investimento nas carreiras profissionais passa pelas áreas da programação, medicina ou turismo.

Extraído do sítio ionline.pt

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