22 de agosto de 2013

CINEBIOGRAFIA RUSSA EVITARÁ HOMOSSEXUALIDADE DE TCHAIKOVSKY - Milton Ribeiro

Tchaikovsky: longas discussões sobre a sexualidade do autor do Lago dos Cisnes

Entre os doze longas-metragem que recentemente receberam apoio financeiro do Ministério da Cultura da Rússia está a cinebiografia Tchaikovsky, de Kirill Serebrennikov. Os doze projetos dividirão um total de 73 milhões dólares disponibilizados através do Ministério da Cultura ainda este ano. As sessões para a escolha dos filmes foram abertas ao público — uma tentativa para evitar as acusações de corrupção e nepotismo ocorridas em anos anteriores.

Como o compositor foi notoriamente gay, reinava grande curiosidade para saber como este filme patrocinado pelo Estado iria lidar com o assunto da sexualidade do compositor no momento em que a lei russa proíbe a promoção da homossexualidade. Arabov respondeu: “Eu sou contra a discussão de temas homossexuais, especialmente nas artes. (…) Eu não concordo com um filme que promova o homossexualismo. Não porque não tenha um amigo gay, mas porque esta área está fora do escopo da arte”.

E completa: “Ele realmente gostava de Bob (Vladimir Davydov, sobrinho do compositor), tanto que lhe dedicou sua última sinfonia, mas era uma relação platônica. Tchaikovsky era um homem extremamente angustiado. Existe uma lenda que colegas seus o inquiriram sobre sua consciência, usei isso no roteiro como um pesadelo de Tchaikovsky”.

O edital do Ministério da Cultura russo solicitava que os filmes fossem socialmente relevantes ou patrióticos. Porém, Arabov diz que seu roteiro tangencia tais exigências: “O patriotismo pode ser repassado através da educação artística. Quando uma pessoa aprende história russa na escola, quando aprende sobre nossa literatura e música, torna-se automaticamente um patriota. Temos períodos mais pobres, mas a literatura russa do século XIX e início do XX é saudada em todo o mundo”.

Arabov fez sua estréia no cinema como roteirista de “A Voz Solitária do Homem”, de Alexander Sokurov, em 1978. Mais tarde, tornou-se colaborador regular de Sokúrov, escrevendo o roteiro para 11 de seus filmes. Voltando à temática gay, Arabov diz ser completamente indiferente ao assunto. “O que as pessoas fazem em seus quartos não interessa à esfera pública. Essa discussão é semelhante às discussões de caráter moral na era soviética”

Uma longa discussão

A discussão sobre a vida pessoal de Tchaikovsky, especialmente sua sexualidade, talvez seja a mais extensa de qualquer compositor no século XIX e, certamente, de qualquer compositor russo de sua época. No século XX, o assunto foi apimentado pelos consideráveis esforços soviéticos para expurgar todas as referências à atração do compositor por pessoas do mesmo sexo, retratando-o como heterossexual.

Tchaikovsky permaneceu solteiro pela maior parte de sua vida. Em 1877, com a idade de 37 anos, ele se casou com uma ex-aluna, Antonina Miliukova. O casamento foi um desastre. Incompatíveis sob vários aspectos, o casal viveu junto por apenas dois meses e meio antes de Tchaikovsky deixá-la, emocionalmente esgotado e sofrendo de bloqueio criativo. A família de Tchaikovsky deu-lhe apoio durante a crise e ao longo de sua vida.

A afirmação mais corrente é que Tchaikovsky era homossexual, figurando em todas as listas ocidentais de celebridades gays. “Os relacionamentos mais íntimos do compositor eram com os homens e ele procurou a companhia de outros homens por longos períodos, associando-se abertamente e estabelecendo também relações profissionais com eles “, diz seu irmão dramaturgo Modest em sua autobiografia. Também as cartas de Tchaikovsky foram suprimidas pelos censores soviéticos.

* Com informações do izvestia.ru e do The Hollywood Reporter.

Extraído do sítio Sul21

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