8 de janeiro de 2013

MARAVILHAS DO INVERNO MOSCOVITA - Daria González

Os turistas costumam ter receio do lendário inverno russo, mas não há necessidade para isso. Se a intenção é experimentar a autêntica alma da capital russa, basta cobrir-se bem e tirar proveito dos inúmeros cafés, teatros e museus, assim como das diversas opções de esporte no gelo.


A neve fresquinha embeleza qualquer cenário, escondendo as manchas e suavizando as arestas. O gelo em si também não é só admirável, como faz desenhos na janela, além de proporcionar novos espaços para esporte e brincadeiras, bem como esculturas.

Paisagens icônicas

As cúpulas douradas, árvores sempre cheias, esculturas monumentais e casas de madeira têm uma beleza emblemática nessa paisagem de inverno. A neve lisa sobre o jardim do Kremlin, em sua margem norte do rio Moscou, monta o cenário perfeito para a torre de Ivan, o Grande, e para as cúpulas próximas das catedrais de Assunção, Ascensão e Arcanjo.

Essas construções antigas e sagradas no coração da cidade são símbolos da Rússia da mesma forma que o inverno, de modo que os dois juntos são uma combinação bem-sucedida. Ao lado, a pista de gelo sazonal e a árvore de Natal tornam o lugar ainda mais mágico.

No sul da cidade, o portão rosa e as muralhas fortificadas do antigo Monastério de Danilovski ou São Daniel, perto da estação de metrô Tulskaia, cercam um grupo diverso de igrejas que parecem feitas apenas para os dias de neve. A iluminação à vela da Catedral dos Padres Sagrados, datada de século 17, recai sobre os ícones antigos e afrescos brilhantes.

Do lado oposto, a neoclássica Catedral da Trindade, com seus pinheiros ao redor, foi construída pelo estimado arquiteto Osip Bove. A pequena capela de cúpula dourada entre elas foi erguida para celebrar os mil anos da Igreja Ortodoxa Russa em 1988. Assim como a residência oficial do Patriarca, o mosteiro tem guardas cossacos em botas e chapéus de pele.

Para um tipo bem diferente de paisagem do inverno, os visitantes podem ir à propriedade rural de Ded Moroz, o Papai Noel russo, no parque Kuzminki, que fica a sudeste do centro da cidade. Esse conjunto de casas kitsch tem um charme incomparável quando a neve cai, especialmente após o anoitecer.

Esqui, natação e escultura

Não é preciso ficar no descampado para aproveitar a enorme margem arborizada que se estende do parque Górki até chegar ao vale Setun. É possível observá-la pelas paredes de vidro da estação de metrô Vorobiovi Góri (Colinas do Pardais, em português) ou do 22o andar panorâmico do caríssimo café Sky Lounge, na Leninski Prospekt.

Além disso, o teleférico de Vorobiovi Góri leva os praticantes de snowboard e esquiadores ao topo da encosta. Há outras oportunidades para esqui alpino em locais como o resort Volen, nos arredores de Moscou, mas os bosques de bétulas suavemente ondulados, típicos da paisagem da capital, são mais adequados para esqui de fundo ou esqui cross-country (maratona de esqui, com subidas, descidas e trechos planos).

Nos fins de semana de inverno, as colinas e lagos do parque-floresta Pokrovskoie-Strechnevo, não muito longe da estação de metrô Voikovskaia, ficam lotados de trenós, esquiadores, encenadores de batalha e pescadores de gelo. Esses pescadores geralmente sentam-se em um lago congelado ao lado de uma fiel garrafa de vodca. Alguns deles nem sequer usam luvas, já que dessa forma podem sentir melhor a linha puxando quando algum peixe é fisgado.

Abrir um grande orifício no gelo e pular na água gelada é outro esporte radical muito popular na Rússia. Os morji ou “morsas”, como são chamados os adeptos de tal prática, insistem que há inúmeros benefícios para a saúde. Fora os benefícios espirituais de quem nada no dia 19 de janeiro, quando se comemora a Epifania Ortodoxa e todas as águas são bentas.

A ilha de Serebriani Bor, que pode ser alcançado de ônibus ou táxi a partir da estação de metrô Polejaevskaia, é um bom lugar para ver (ou se juntar a) tais banhistas. O nome da ilha quer dizer “Floresta de Pinheiros de Prata”, e é exatamente isso que se encontra em um dia de neve.

Trata-se de um paraíso para os esquiadores de cross-country, com barracas de aluguel de esqui, longos trechos na mata e casas de madeira entre os pinheiros. Quando o rio congela, é possível esquiar ou andar sobre ele também. Na outra extremidade da ilha, há um café, uma pista ao ar livre e escorregadores de gelo.

Todo inverno o Festival de Escultura de Gelo “Viugovei” promove exposições ao ar livre em diversos lugares de Moscou; este ano irá acontecer de dezembro até março de 2013 e os locais incluem o glorioso Centro de Exposições de Toda a Rússia, cujas estátuas de ouro e memoriais sobre espaço ficam incríveis em meio a neve. Os escultores profissionais criam cenas detalhadas com enormes blocos de gelo e a cada ano há um tema novo, como viagens cósmicas, marcos mundiais ou contos de fadas.

A ideia de esculpir no gelo, agora um tipo de arte internacional, teve origem no século 18 sob o comando da Imperatriz Anna, quando o arquiteto-chefe Piotr Eropkin projetou um palácio de gelo. As extensões épicas do parque Pobedi (parque Vitória, em português) também abrigam conjuntos de palácios e figuras de gelo, e os escultores decoram o festival de inverno em Ploschad Revolutsi (Praça da Revolução, em português) todos os anos com monumentos de gelo.

Vela, patinação e hóquei no gelo

O hotel Radisson Royal (que antes era chamado de “Ukraina”) tem uma frota de iates quebra-gelo para que os cruzeiros fluviais entre os grandes arranha-céus da era de Stálin e o Parque Górki continuem operando durante o ano inteiro. Os visitantes podem ver monumentos famosos de Moscou através das paredes de vidro do barco.

A forma mais rudimentar de velejar no gelo é praticando snowkiting, uma espécie de esqui aquático em água congelada que pode atingir quase 100 km/h. A extensão do rio Moscou perto da estação de metrô Stroguino é uma meca para os devotos deste e outros esportes de inverno.

Assim que a temperatura cai o suficiente, as pistas de gelo brotam por toda a cidade. Da Lagoa do Patriarca, com suas esculturas de bronze e tília até chegar aos trechos congelados de três quilômetros no Parque Górki, Moscou é um paraíso para patinação.

Os jogos no gelo, como broomball e curling, também são populares na Rússia, mas o hóquei é ainda o mais conhecido deles. A capital é a casa de pelo menos três grandes equipes dessa modalidade: Dínamo, Lokomotiv e CSKA. Os visitantes podem adquirir bilhetes para assistir a essas equipes em pontos de venda espalhados pela cidade.

No entanto, o hóquei no gelo em Moscou não é apenas um jogo para profissionais. Guy Cranfield, um garoto inglês de quatorze anos da Inglaterra que viveu em Moscou por cinco anos, jogava em um time júnior aos domingos dirigido por pais russos e canadenses. Para o jovem Cranfield, o hóquei no gelo era “a melhor coisa da Rússia”.

Extraído do sítio Diário da Rússia

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