22 de janeiro de 2013

MAIS SOBRE A PRORROGAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO NO BRASIL


O escritor e poeta brasileiro Luiz Carlos Amorim lançou críticas à condução do Acordo Ortográfico no Brasil e do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa.

O escritor e poeta brasileiro Luiz Carlos Amorim – colunista de jornais como o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e o Correio do Povo, de Porto Alegre – escreveu em seu blogue um artigo criticando as políticas acerca da aplicação do Acordo Ortográfico no Brasil e da elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa.

O fato é que a reforma ortográfica está mais para uma modificação no vocabulário português brasileiro. E mesmo assim, não seria a época para isso, uma vez que se pretende uma reforma ortográfica de âmbito geral, comum a todos os países envolvidos, ou seja: a temida unificação da Língua Portuguesa.

Na verdade, se prestarmos atenção, o Brasil tem o seu “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”. Perceberam que não consta o “comum”, que é o objetivo do Acordo?

O texto de Luiz Carlos Amorim, intitulado A Prorrogação do Acordo Ortográfico no Brasil, foi publicado em 8 de janeiro.

Em resposta, o professor Mário Filipe Silva, da Universidade Aberta, de Portugal, expôs seu comentário sobre a temática:

Li com agrado seu primeiro parágrafo sobre alguém que resolve mudar uma palavra uniforme em português só porque tem a ideia peregrina de que uma palavra precisa de um “a” final para designar alguém no feminino.

Já no seguimento de sua prosa constato uma estranha confusão entre ortografia e oralidade da parte de quem eu não esperaria. Em que é que a ortografia altera a oralidade? Desde quando, na história da escrita, isso sucedeu? Desde quando se alfabetiza antes de aprender a falar? O seu raciocínio sobre “o Acordo vai modificar a maneira de falar” peca por partir de um pressuposto que não se concretiza. Olha para a escrita do ponto de vista de alguém que já sabe escrever e que entende que, supostamente, o olhar para uma palavra, com uma imagem diferente daquela que tem gravada na memória, provoca uma alteração na pronúncia. Tal não está provado. Nem as duas mudanças ortográficas anteriores, nomeadamente a de 1945, o comprovam. Mas uma criança aprende a falar muito antes de chegar à escola e só então aprende a escrita e a leitura, não tem memória do que não aprendeu ainda e, a não ser que o professor ensine de forma errada, ela vai ler igual ao que diz. Mas o senhor dá exemplos e logo escolhe palavras que o contradizem de forma inequívoca: “óptico”. Me diga, em que é que uma palavra proparoxítona, que é obrigatoriamente acentuada, se altera “na maneira de falar” se lhe retiram a consoante muda? Em que é que “óptico” se pode dizer de maneira diferente se se passar a escrever “ótico”. Ninguém em Portugal pronuncia este “p”. O mesmo para “ótimo” e “óptimo”. Com “ato” sucede o mesmo. É uma palavra grave e o “a” em início de palavra é naturalmente “aberto” em português. A escrita não preexiste à oralidade, nem prevalece sobre ela como qualquer indivíduo invisual o pode facilmente confirmar.

Em Portugal só um grande jornal ainda não assumiu a nova ortografia: o Público. Os jornais populares e os esportivos, que são os que mais se vendem no país, já escrevem na nova ortografia. As empresas nas suas páginas na Internet já o fizeram ou estão a fazê-lo, a escola em Portugal já adotou a nova ortografia em setembro de 2010 e os manuais escolares já respeitam a norma.

Os livros que estão sendo editados já adotaram a nova ortografia a não ser que o autor tenha ainda um comportamento “salafista” e determine o contrário. Têm até 31 de dezembro de 2015 para se refastelarem no seu conservadorismo. O Estado Português adotou a nova ortografia em 1 de janeiro de 2011 e é nessa norma que são redigidos todos os documentos oficiais e de trabalho.

E o Vocabulário Ortográfico Comum está, ao contrário da sua crença, a ser elaborado por quem foi mandatado para o fazer pelo Plano de Ação de Brasília: O Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Está sendo trabalhado por todos os países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. É verdade que não ficou pronto ontem, mas, certamente, ficará na data prevista para a sua conclusão.

Sobre as palavras de [João] Ubaldo [Ribeiro], autor que muito aprecio como escritor, volto a referir, o Acordo é ortográfico, não é, nem sobre prosódia, semântica ou limitação da variedade lexical. Nada tem que ver, com pronúncia, significado (me dê um exemplo de uma palavra que tenha significado diferente em Barcelos, no Piauí ou em Benguela e que por via disso se escreva diferente. Só uma) ou sobre nomes diferentes para a mesma coisa. Abacaxi e ananás são palavras diferentes, não se podem dizer da mesma maneira, não é?

Ubaldo é um excelente escritor de Língua Portuguesa. Deve continuar escrevendo e falando daquilo que sabe melhor. Assim ninguém precisa de saber que escritor também fala sem pensar sobre assuntos que não domina, só porque não resiste à atração do microfone.

O Brasil tem o seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e Portugal também tem o seu. Para o Comum já só faltam 6. E vêm a caminho. 

O diretor-executivo do IILP, Gilvan Müller de Oliveira, esclareceu sobre os trabalhos do Vocabulário Comum.

Merece também registro a resposta do diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o professor brasileiro Gilvan Müller de Oliveira, sobre os trabalhos em andamento do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa:

Caro Escritor Luiz Carlos Amorim,

Gostaria de informá-lo que o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) encontra-se em estado adiantado de elaboração pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o órgão da CPLP que ficou encarregado de elaborá-lo pelo Plano de Ação de Brasília para a Promoção, Difusão e Projeção da Língua Portuguesa (2010) e terá sua primeira versão lançada na II Conferência Internacional sobre o Futuro do Português que a CPLP organiza em Lisboa em novembro desse ano.

Pela primeira vez temos uma metodologia unificada para o Vocabulário, consensuada por todos os países que tem o português como idioma oficial, bem como equipes de cada país atuando segundo os princípios comuns.

Peço que me mande seu e-mail [correio eletrônico] para o envio dos materiais referentes ao assunto e a gentileza de informar ao público, através do Jornal do Brasil, sobre a inapropriação da sua afirmação de que “o tal ‘Vocabulário Comum da Língua Portuguesa’ não foi estudado, aliás, nenhuma providência foi tomada nesse sentido.”, fruto da ligeireza da pesquisa prévia à escrita do artigo. 

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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