23 de janeiro de 2013

ANNA KARENINA DE JOE WRIGHT IRRITA ESPECTADORES RUSSOS

A nova adaptação do clássico de Tolstoi, com Keira Knightley no papel de Karenina, atraiu quase 150 mil espectadores na primeira semana de exibição na Rússia, mas foram poucos os que gostaram do que viram.

Se as críticas não são as melhores, Wright pode ao menos contentar-se com o êxito comercial do filme na Rússia, onde foi visto, numa semana, por mais de 147 mil pessoas

A nova versão cinematográfica de Anna Karenina, realizada pelo inglês Joe Wright, está a provocar um coro de críticas entre os espectadores russos, que acham que o filme não faz justiça ao romance de Tolstoi, considerado um dos grandes monumentos da literatura russa. “Duas horas de absurdos”, escreveu um leitor no site do jornal Kommersant, acrescentando: “Se o virmos como uma comédia, não está mal”.

Nomeado para quatro Óscares em categorias técnicas, o filme até tem como argumentista um autor que conhece bem a cultura e literatura russas, o dramaturgo e teatrólogo inglês de origem checa Tom Stoppard. Mas não parece ter sido o suficiente para convencer os conterrâneos de Tolstoi, que criticam particularmente a opção do cineasta de fazer situar toda a acção num palco de teatro. O argumento de Wright é o de que a alta sociedade russa da época se comportaria como se estivesse numa sala de teatro, mas o resultado, sustenta a crítica ao filme publicada no Kommersant, é que “o décor esmaga” este Anna Karenina, que classifica como “uma mistura de filme e de espectáculo teatral”.

“É realmente preciso que a Rússia se encontre num estado de demência total para comprar e exibir este filme”, escreve, no site cultural Openspace.ru, o ficcionista, poeta e crítico Dmitri Bykov, que é também um respeitado biógrafo de Boris Pasternak. Como a generalidade dos seus compatriotas – a julgar pelos comentários na blogosfera russa e em sites de jornais, recolhidos pela AFP –, Bykov acha que Keira Knightley, a actriz-fetiche de Joe Wright, não é de todo convincente no papel da heroína de Tolstoi. Ironizando com a recente polémica em torno da recente aprovação de uma lei que veio interditar a adopção de crianças russas por cidadãos dos Estados Unidos, Bykov sugere que o parlamento russo aprove “uma lei anti-Wright” e imponha “um embargo sobre todos os futuros filmes de Keira Knightley”.

Wright, um cineasta que gosta de adaptar obras literárias, já confiara em Knightley para interpretar a Elizabeth Bennett de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen – papel que valeu à actriz uma nomeação para o Óscar –, e voltou a escolhê-la para encarnar a protagonista do romance Expiação, de Ian McEwan. Mas dar-lhe o papel de Karenina pode ter sido um erro de casting. “A Anna Karenina inglesa é demasiado descarnada”, escreve o diário Troud. “Keira Knightley no papel de Karenina?”, pergunta um comentador no site da rádio moscovita Echo. E responde: “Teria tido o mesmo sucesso a fazer de Marilyn Monroe”.

O romance de Tolstoi foi muitas vezes adaptado ao cinema e, antes de Knightley, Anna Karenina fora interpretada por actrizes como Greta Garbo, Vivien Leigh ou, mais recentemente, a francesa Sophie Marceau, num filme de Bernard Rose. Mas para qualquer espectador russo, a Karenina de referência será sempre Tatyana Samoylova, que a interpreta no filme realizado em 1967 por Aleksandr Zarkhi, uma obra pouco conhecida nos Estados Unidos e na Europa ocidental, mas que foi unanimemente elogiada pela crítica. 

As reservas dos espectadores russos alargam-se ainda ao actor que veste a pele do conde Vronski, Aaron Taylor Johnson, que acusam de “parodiar” o viril amante de Anna Karenina. As farpas só poupam Jude Law, que interpreta Alexei Karenine, o marido.

Mas se as críticas não são as melhores, Wright pode ao menos contentar-se com o êxito comercial do filme na Rússia, onde foi visto, numa semana, por mais de 147 mil pessoas, segundo informação da revista Variety Russia.

Extraído do sítio Público.pt

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