23 de janeiro de 2013

CONHEÇA MURMANSK, A CIDADE DA NOITE E DO DIA POLARES - Daria González

Na região transpolar, o ano é dividido em noite e dia polares. No dia polar, o sol nunca se põe no horizonte, circulando o dia inteiro pelo céu. Já na noite polar, o sol nunca aparece no céu.

De acordo com médicos, a noite polar é um grande desafio para o organismo humano devido à falta de radiação ultravioleta e de vitaminas. Foto: Aleksandr Semionov

Aglomerado mais populoso do mundo na região transpolar, com 307 mil habitantes, a cidade de Murmansk foi o último núcleo urbano fundado pelo Império Russo e vai completar 100 anos em 2016.

"Eu estive em Murmansk três dias e três noites", costumam dizer os militares após completar três anos de serviço na região.

Na região transpolar, o ano é dividido em noite e dia polares. No dia polar, o sol nunca se põe no horizonte, circulando o dia inteiro pelo céu. A noite polar é um fenômeno muito mais deprimente: o período de ausência completa de luz vai de 3 dezembro a 11 de janeiro, sendo o crepúsculo a parte mais clara do dia. Na noite polar, o sol nunca aparece no céu.

"Ninguém gosta da noite polar, está sempre escuro e todos ficam com sono. Já no dia polar você não consegue adormecer até a manhã. Mas, com o tempo, você se acostuma. O homem se acostuma a tudo", diz Tatiana, diretora da escola № 7, da vila de Korzunovo, na região de Murmansk.

De acordo com médicos, a noite polar é um grande desafio para o organismo humano devido à falta de radiação ultravioleta e de vitaminas. Como resultado, muitos moradores sofrem de depressão e sonolência.

Na noite polar, as escolas de Murmansk têm as aulas reduzidas e abrem as portas mais tarde do que o habitual. Os jardins de infância praticam atividades de adaptação de crianças e lhes dão vitaminas.

"Já o dia polar é uma maravilha. Economizamos muito nas contas de luz ", diz Vitali, motorista de táxi, que trabalha na praça central da cidade. "Entretanto, na noite polar, gastamos com a eletricidade tudo o que economizamos de ‘dia’", completa.

No último domingo de janeiro, a cidade assinala a Festa do Sol, com shows e festivais em espaços públicos.

Guerra

No verão de 1942, Murmansk foi completamente destruída pela aviação nazista, que se aproveitou do fato de o sol nunca se pôr no horizonte no dia polar. Bombardeios nazistas destruíram três terços dos prédios da cidade, na época com construções de madeira – foram 792 ataques aéreos e 185 mil bombas, sendo a segunda cidade russa mais bombardeada após Stalingrado.

"Prédios destruídos por bombas ou fogo. É preciso ser russo para ficar aqui. Se algum dia a paz chegar, que chegue o mais rapidamente possível a Murmansk, seus moradores a mereceram", escreveu em um artigo na revista Harper's Magazine em 1942 o jornalista estadunidense Dave Marlow.

Em 1982, a cidade, considerada capital da região transpolar russa, foi condecorada com a Ordem da Grande Guerra Patriótica de 1ª Classe e, três anos mais tarde, com o título de cidade-herói.

Porta para o Ártico

Murmansk é uma porta marítima da Rússia para o Ártico, cidade de pescadores e marinheiros. Hoje é difícil acreditar que, nos anos 1920, a frota pesqueira local tenha enfrentado o problema da falta de pessoal. Na época, para resolver o problema, contramestres com dois ou três marinheiros pegavam carrinhos de mão e iam pelas tabernas locais buscar homens desmaiados pelo álcool. Mas quando os homens acordavam, era tarde demais: o barco já estava em alto mar.

A principal fonte dessa mão de obra era Xangai, um dos bairros da cidade habitado pelos chineses. Por mais estranho que pareça, os primeiros habitantes da cidade foram os chineses. Eles vendiam uma vodca de alambique chamada Khanja e exploravam jogos de azar.

Murmansk nasceu em condições adversas em consequência de uma guerra e para servir a guerra. Durante a Primeira Guerra Mundial, a Rússia precisava de ajuda de países aliados. A única maneira de recebê-la era construir um porto na baía de Kola e uma ferrovia que o ligasse a São Petersburgo.

A ferrovia foi construída em um ano por prisioneiros de guerra alemães e austríacos, refugiados de províncias ocidentais do país, e chineses.

"Na época soviética, a maior atração desse local era a possibilidade de ganhar muito dinheiro", diz Oleg, comandante de um pequeno barco pesqueiro. "O coeficiente polar (acréscimo ao salário pelas difíceis condições de trabalho) obrigava as pessoas a gostar dessa escuridão infinita. Agora os acréscimos não são tão grandes, mas já estamos acostumados a viver nas trevas da noite polar."

Após passar o primeiro dia aqui, você chega à conclusão de que viver em Murmansk é um esporte radical.

"Estamos vivendo sobre um barril de pólvora", diz Andrêi, natural da cidade.

"Temos aqui por perto uma base naval da Frota do Norte, em Severomorsk, assim como bases de estacionamento de submarinos nucleares, uma base da frota de quebra-gelos atômicos, uma usina nuclear, na vila de Poliarnie Zorie, e a albufeira de barragem de Tulom, que, em caso de uma avaria, pode inundar a cidade.”

Tecnologia

A Rússia deve a Murmansk a primeira plataforma de petróleo do mundo resistente ao gelo, o primeiro navio de superfície do mundo com propulsão nuclear, a única frota do mundo de quebra-gelos nucleares e a única rota de transporte permanente através do Ártico.

Em primeiro lugar, Murmansk é vista como porto estrategicamente importante e elo-chave de muitos sistemas de transportes. A cidade é de extrema importância para a Rússia em todos os sentidos.

Porém, para as 307 mil pessoas que vivem ali é sobretudo um lar comum com noites e dias polares, ventos fortes, encostas geladas e acréscimos polares aos salários. Eles a chamam com carinho de Monamourmansk.

Sua aparência sóbria é compensada com a beleza da natureza local: tundra, montanhas, taiga, fiordes e o mar. E se você olhar para o céu, poderá ver a única, talvez, maravilha da noite polar, as luzes do Norte.

Extraído do sítio Gazeta Russa

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