29 de agosto de 2012

FRIEZA - Florbela Espanca


Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
“Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!…”

In "Livro de Sóror Saudade", 1923


Florbela Espanca (1894-1930) foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional. Nasceu na vila Viçosa-Alentejo, como filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo. Porém, foi educada pela madrasta e pelo pai. Estudou no Liceu em Évora e fez curso de Direito na Universidade de Lisboa. Foi casada três vezes, o primeiro deles, com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. Em 1913. Sua vida foi marcada por muitos problemas pessoais. Sofreu um aborto espontâneo muito cedo, o que lhe fez ficar doente por um tempo. Mas o que marcaria a sua vida foi a morte precoce de seu irmão, Apeles Espanca, num acidente de avião ocorrido em 1927. O fato colaborou para que Florbela Espanca desenvolvesse problemas mentais e tentasse suicídio um ano após a morte do irmão. Sua primeira obra foi publicada quando ainda estudava na faculdade, “Livro de Mágoas” (1919). Fez contatos com poetas em Lisboa e chegou a colaborar no jornal Portugal Feminino e atuar como jornalista na publicação Modas & Bordados e a Voz Pública, um jornal de Évora. Publicou um livro de sonetos, o “Livro de Sóror Saudade“ (1923). Os outros livros foram publicados quando a poetisa já tinha morrido: ”Charneca em Flor “(1931), “Juvenília” (1931) e “Reliquiae” (1934). Também escreveu contos, com destaque para “O Dominó Preto” (1983), epístolas como “Cartas de Florbela Espanca” (1949) e diversas traduções. Mas era acima de tudo uma poetisa, mestra na escrita de sonetos. A poesia de Florbela Espanca é caracterizada por um forte teor confessional. A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir em seus poemas, os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental. Não fez parte de nenhum movimento literário, embora seu estilo lembrasse muito os poetas do romantismo. Florbela Espanca morreu em decorrência de suicídio por barbitúricos, em 1930, no dia de seu aniversário, com apenas 36 anos.



Extraído do sítio Prá Hoje

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