9 de maio de 2013

LITERATURA ÁRABE PARA CRIANÇAS - Aurea Santos

A brasileira Tainise Soares já traduziu quatro livros infantis de autores árabes e trabalha em outros dois. Entre os títulos estão obras premiadas que aguardam editora para publicação no Brasil.

Soares: quatro livros árabes já traduzidos

São Paulo – A estudante Tainise Soares quer trazer a literatura infantil árabe para mais perto dos brasileiros. Aluna da graduação em Letras com habilitação em língua árabe na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela já fez a tradução completa de quatro títulos do árabe para o português e está trabalhando em outros dois, em um projeto chamado Oriente Médio: A Literatura Infantil Árabe e a Arte de Contar Histórias em Línguas Orientais. Os livros ainda não foram publicados.

Sem ascendência árabe, Soares começou a estudar o idioma acompanhando alguns amigos que decidiram cursar aulas da língua. Em 2004, foi ao Egito e ficou lá por dois anos, aprendendo o árabe popular daquele país. Foi só em 2008 que ela voltou a estudar a língua clássica (usada na literatura) e não parou mais de trabalhar com o idioma. No ano seguinte, realizou um trabalho voluntário como contadora de histórias em uma escola pública e passou a se interessar por literatura para crianças.

“Comecei a pesquisar sobre literatura árabe infantil. Vi que estava acontecendo um movimento pró-leitura e pró-livros no Oriente Médio semelhante ao que ocorria no Brasil. Então, fiquei com o sonho de juntar as duas coisas. Quando entrei na graduação em 2011, já entrei com esse foco”, conta a estudante.

Depois de realizar uma oficina de contação de histórias árabes na UFRJ, Soares começou a receber contatos de escritores e editores do Oriente Médio. “A escritora (libanesa) Rania Zaghir me convidou para traduzir os livros dela e eu abracei o projeto”, conta.

Os primeiros títulos de Zaghir traduzidos por Soares foram Quem tomou o meu sorvete?, que trata da história de uma menina que busca ajuda para decidir qual é a melhor forma de tomar o seu sorvete; e Sissi Malaket inventando moda, sobre uma menina que gosta de se vestir com animais e plantas (veja ilustração abaixo), de acordo com a estação. Sissi ganhou o prêmio Assabil de literatura infantil. O Assabil é um projeto libanês fundado em 1997 para apoiar a abertura de bibliotecas públicas.

Outras obras premiadas que já estão em português graças ao trabalho de Soares são Laila responda-me! da síria Nadine Kaadan, sobre uma princesa surda-muda, que levou o prêmio de melhor livro para criança com deficiência pela Fundação Anna Lindh, do Egito, e Meu Ego e Eu: Um Fardo Pesado, do sírio Samir Al Kadri. O livro conta a história de Tariq, um garoto que carrega o peso de ser brilhante, o que o deixa infeliz. A obra foi premiada este ano no Festival de Literatura de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.

Sissi Malaket: obra premiada já está em português

Em junho de 2012, pouco tempo depois de iniciar seu projeto de traduções, Soares foi convidada para participar de uma conferência na Universidade Libanesa, em Beirute, sobre política na literatura infantil na atualidade. “O tema da apresentação foi ‘Construindo a cidadania através da literatura infantil no Brasil’. Falei sobre Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Ana Maria Machado e Georgina Martins. Tratei sobre como estes escritores abordam o tema da cidadania no Brasil”, explica.

Atualmente, Soares trabalha na tradução dos livros Amanhã e Haltabis Haltabis & A balada de sementes de gergelim e pepinos, das já mencionadas Nadine Kaadan e Rania Zaghir.

Para levar seu trabalho às crianças brasileiras, Soares está em busca de editoras interessadas em publicar seus livros. “Duas editoras me procuraram, mas ainda está no processo (de negociação). Não parei de procurar editoras, estou nesta busca ainda”, afirma.

Enquanto isso, Soares não pensa em parar seu trabalho. “Não pretendo parar de traduzir. Recebo muitos livros do pessoal de lá”, afirma. Para Soares, traduzir os livros infantis árabes para o português não é apenas um projeto acadêmico “é um projeto de vida”. “Minha grande vontade é ver esse intercâmbio literário entre o mundo árabe e o mercado editorial brasileiro. Eu acredito muito nisso”, completa.

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