26 de setembro de 2012

SÉRIE REVÊ O PENSAMENTO ALEMÃO NO SÉCULO 20 COM UM OLHAR BRASILEIRO - Marco Sanchez


Série de livros busca apresentar grandes pensadores alemães do século 20 por uma perspectiva brasileira. O segundo volume acaba de ser lançado e inclui nomes como Carl Jung, Rosa Luxemburgo e Albert Einstein.

Excessos históricos de consequências globais marcaram a história alemã no século 20. Como assinala o historiador inglês Eric Hobsbawm, a Alemanha esteve no centro dos acontecimentos no século passado. O país passou por duas guerras mundiais, duas ditaduras, ficou na linha de frente na disputa entre o bloco comunista e capitalista durante a Guerra Fria e se reunificou num mundo marcado pela crescente globalização, sendo o ponto de intersecção de grandes processos históricos.

Esses conflitos e excessos geraram uma necessidade de observar e refletir. E foram pensadores extraordinários que marcaram esse tumultuado período que a Alemanha viveu nesses cem anos. "A partir desse contexto, nasceram posições, perfis e propostas com uma perspectiva global", disse Wolfgang Bader, diretor do Instituto Goethe de São Paulo e organizador de Pensamento Alemão no Século XX, ciclo de palestras que está sendo compilado em livros.

Um pensamento que articulava conceitos fundamentais, projetava teorias críticas, formulava utopias e que se tornou conhecido também fora da Alemanha. Na opinião de Bader, o diálogo com o Brasil aconteceu de uma maneira muito interessante e surpreendente. "Influência é um conceito errado, pois dá uma ideia de superioridade e inferioridade. A decisão de ser influenciado é uma escolha. Foi uma grande surpresa constatar que a elite intelectual brasileira, diferentemente do que se pensa, não é influenciada pela França, mas pelo pensamento alemão", completou.

Processo dialético

A época atual, cheia de intransparências, caos e excesso, pareceu ser o momento ideal para revisitar ideais e pensamentos. "Todos os parâmetros para descrever o mundo mudaram após a queda do Muro de Berlim. Queríamos buscar novas respostas para interpretar tudo isso", disse Bader. Voltar aos grandes mestres foi a maneira de refletir sobre o presente.

Segundo volume de "Pensamento alemão no século XX"
As situações extraordinárias vividas pelo país fizeram com que o pensamento alemão fosse fundo em diversas questões, como convivência social, Estado ditatorial, consumo, alienação e indústria cultural, entre outros temas que seguem atuais e que também são importantes no Brasil. Para Bader, grandes pensadores sobrevivem à sua época e têm o que dizer mesmo em contextos que eles não conheciam ou não previam.

A escolha de intelectuais alemães e não brasileiros para discutir o tema tiraria o caráter dialético do projeto. "O resultado final é criado não só pelo que está sendo dito, mas também por quem diz. Da distância entre a Alemanha e o Brasil nasce uma riqueza muito grande, uma perspectiva que às vezes os alemães não percebem. Desse encontro intercultural nasce uma outra e fascinante realidade", completou.

Obra de referência

Nesse contexto nasceu a ideia de criar uma obra de referência. O ponto de partida para os livros foram ciclos de palestras que aconteceram no Instituto Goethe de São Paulo. Intelectuais de peso foram selecionados e escolheram seus pensadores alemães favoritos. Para manter um padrão, os palestrantes tinham que falar sobre a vida, obra e originalidade do pensador, o que ele significou em seu contexto histórico e o que ele significa no contexto brasileiro.

"Para mim o mais interessante é saber como os pensadores foram assimilados nesses deslocamentos", disse Bader, que co-organizou os ciclos ao lado de professor da USP Jorge de Almeida. Os organizadores queriam fugir da abordagem do mundo acadêmico que transforma os filósofos em "peças de museu na história da filosofia". O processo busca não só atualizar o pensamento, mas também refletir e aplicá-lo na realidade brasileira.

Dois elementos foram essenciais para o sucesso do projeto. O primeiro foi o formato. As palestras são apresentadas ao público, que discute as ideias, trazendo novas perspectivas aos palestrantes, que então elaboram os textos que serão publicados nos livros. Segundo Bader, os ciclos estavam sempre cheios, com jovens articulados, dispostos a discutir e que participavam de maneira ativa.

O outro ponto essencial foi a escolha dos palestrantes. "Buscamos pessoas que realmente se preocupam em pensar o Brasil. Eles não são apenas professores, mas também articuladores interessados na popularização do pensamento. Essa característica é essencial para observar como o pensamento alemão se aplica no Brasil. Queríamos fugir da especialização, que no mundo acadêmico pode limitar a visão da realidade", explicou o organizador.

Wolfgang Bader, diretor do Instituto Goethe de São Paulo
A escolha buscava participantes que, além de articulados, tinham um perfil e uma linha própria de pensamento. A intenção era também dizer algo sobre quem escreve e como os brasileiros se posicionam diante do pensador escolhido. "Dessa forma contribuímos na questão da identidade cultural. Os livros têm duas identidades: uma brasileira e outra alemã. Desse encontro nasce o perfil de cada artigo", completou.

Pensamento nas artes

O segundo volume de Pensamento Alemão no Século XX foi recentemente lançado pela editora Cosac Naify e traz os ensaios de nove intelectuais brasileiros – entre eles Leopoldo Waizbor, José Arthur Giannotti, Isabel Loureiro e Paulo Albertini – que discutem as ideias de nomes como Wilhelm Reich, Carl Jung, Georg Lukács, Rosa Luxemburgo, Erich Auerbach, Ludwig Wittgenstein, Karl Popper, Werner Heisenberg e Albert Einstein.

"Para o primeiro ciclo, escolhemos pensadores no sentido extremo, que se articulam por meio da filosofia, sociologia e teoria literária. Para o segundo abrimos um pouco o leque, estendendo até as ciências. No terceiro resolvemos expandir para a criação artística, já que estamos convencidos que artistas também são pensadores", disse Bader. O terceiro ciclo, que aconteceu de setembro a dezembro de 2011, discutiu temas como Bauhaus, expressionismo alemão, Stockhausen e Joseph Beuys.

O terceiro livro está sendo elaborado e deve ser lançado em 2013. Os dois primeiros volumes têm projeto gráfico caprichado e capa dura, algo especial para esse tipo de literatura. "Queremos que esses três livros sejam uma pequena biblioteca de referência sobre o pensamento alemão. Os leitores poderão dizer se alcançamos ou não nosso objetivo", disse Bader.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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