27 de setembro de 2012

CIDADE DO MÉXICO SE REINVENTA PARA O MUNDO - Gustavo Belarmino

A fachada da prefeitura da Cidade do México, preparada para as comemorações da Independência do País, este mês. Foto: AFP

A colorida Cidade do México amanhece com pressa. E tarda a ir dormir. Gigantesca e nervosa metrópole, a capital deste país que possui um dos maiores legados culturais e arquitetônicos do planeta, com histórias de civilizações que remetem há 3 mil anos, prepara-se para reverter definitivamente o saldo de um crescimento desenfreado que comprometeu, durante muito tempo, a mobilidade, segurança, saúde e a própria vocação para o turismo da cidade. Com investimentos de milhões de dólares em infra-estrutura e políticas públicas, em pouco mais de uma década, a capital federal do México comemora a nova fase. Está se reinventando para o turismo não só de negócios, que corresponde hoje a 60% do total, mas também incrementando as áreas de gastronomia, cultura, arte e divulgando outros destinos distantes da capital, como Los Cabos, Acapulco, Guadalajara e Riviera Maya, sem falar da já consagrada Cancún, no Caribe mexicano.


A "nova história" do turismo da Cidade do México, como explicou o secretário da pasta, Carlos Mackinlay, começou a ser desenhada no final dos anos 90, mais especificamente entre 1997 e 98. "O desenvolvimento turístico não era considerado até então uma política pública", conta Carlos Mackinlay, relembrando que a cidade deixou de lado a vocação industrial e seu crescimento desenfreado após a Segunda Guerra Mundial para se voltar aos serviços.

Do total de turistas que viajaram ao México em 2011, estima-se que 90% eram mexicanos e o restante de estrangeiros, segundo a secretaria de Turismo do governo federal.


O aprendizado não se deu da noite para o dia. O inchaço da metrópole, com um fenômeno de migração incrível (basta observar a imensa "cidade" cinza de Tulpetlac na foto acima, que mais parece a Rocinha, no Rio de Janeiro), a poluição gerada pelas indústrias e o desemprego fizeram muita gente cair na informalidade.

Junte-se a isso a crise gerada pela dívida externa de 1982, quando o País deixa de ser acreditado internacionalmente, e ainda duas tragédias que abalaram a auto-estima da população: em 84, uma terrível explosão de gás deixou diversos mortos e, onze anos depois, um devastador terremoto ceifou mais vidas, levando muitos edifícios ao chão. "Como é possível que em uma cidade, sabidamente em uma área de atividades sísmicas, caiam tantos edifícios?", questionou o secretário. "Isso gerou um tema muito desagradável. Os prédios que caíram não foram os pré-hispânicos e sim edifícios modernos, construídos com corrupção", pontua. "Em 1987 também atingimos o alerta máximo de poluição. Era necessário mudar. Provavelmente nenhuma cidade da América Latina tenha sofrido uma conjunção de tantas situações internas e externas como a Cidade do México e os efeitos foram duríssimos".

Paseo de La Reforma - um dos símbolos da nova Cidade do México

Hoje, prédios que antes eram símbolos da falta de qualidade do ar, deram lugar a projetos mais nobres. Como uma fábrica de cimento nos bosques de Chapultepec que virou o Papalote Museo del Niño, um centro de educação, ciência e tecnologia para crianças. Para otimizar a mobilidade, rodízio de carros e construção de novas vias, assim como a adoção de dezenas de ciclovias e ciclofaixas pela cidade, com sinalização e aluguel de bicicletas, as Ecobicis. É na Avenida Passeo de La Reforma, bem cuidada e arborizada via da cidade que fica na Zona Rosa, que se percebe o grande uso do veículo de duas rodas por famílias e também por trabalhadores, que optam por deixar o carro em casa. Aos domingos, a via fica completamente fechada para os ciclistas. Na capital, já são mais de 100 quilômetros de ciclovias. A segurança para o turista também é outra questão prioritária para o governo. Os índices de ocorrências policiais na Cidade do México já são os menores do país.

Imagem da catedral que fica na praça do Zócalo

INDEPENDÊNCIA - Com toda essa readequação, resta ao turista que vai à Cidade do México somente escolher os seus destinos. E o trabalho não parece ser fácil. Para se ter uma ideia, somente na capital ficam 3 sítios arqueológicos pré-hispânicos, sendo o principal deles bem no centro da cidade, na Praça da Constituição, conhecida como Zócalo. Ali, abaixo de construções centenárias, repousa a mais representativa ruína da civilização Asteca, o Templo Mayor.


No passado, os conquistadores espanhóis tomaram a área por ser o centro político e religioso de Tenochtilan, capital do império Asteca. E muita coisa foi destruída. Hoje, a memória está preservada no Museu do Templo Mayor, passeio imperdível para quem quer mergulhar na história das antigas civilizações. O Zócalo também é a terceira maior praça do mundo, centro de importantes manifestações do México. Neste período do ano, O Zócalo encontra-se completamente vestido de verde, branco e vermelho, as cores do país. É que em setembro comemora-se a independência do México, motivo de orgulho para os cidadãos. Aliás, o nacionalismo pode ser visto não só nas cores da bandeira espalhadas por todo canto, mas também na paixão dos que falam da cidade, das suas tradições, valores e destinos imperdíveis. "A cor para o mexicano é um grito de alegria contra o silêncio", reverbera o guia turístico Joaquim, que apresentou a cidade à reportagem do NE10.

Imagem da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe


Ao viajante, a Cidade do México reserva ainda um sem número de atrativos, como concertos, vida noturna intensa, visitas a palácios coloniais, comidas típicas nas ruas, restaurantes e mercados - sabia que a culinária mexicana também é Patrimônio da Humanidade? -, museus (como a obrigatória casa azul onde viveu Frida Kahlo e Diego Rivera) e um passeio inesquecível pelas águas calmas dos jardins flutuantes de Xochimilco em uma das multicoloridas embarcações. Deixe-se levar também pela religiosidade do povo mexicano e sua adoração e expressão de fé por Nossa Senhora de Guadalupe. Por essas e outras, a Cidade do México e seus arredores - não há como o visitante de primeira viagem deixar de visitar as pirâmides de Teothiuacán - é um destino para se conhecer com tempo. E, se possível, voltar sempre.

Imagem da basílica moderna, que fica em frente à antiga catedral

Extraído do sítio NE10

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