15 de setembro de 2012

CANÇÃO DO EXÍLIO - Murilo Mendes



Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturamos de Veneza
Os poetas da minha terra
São pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
Os filósofos são polacos vendendo à prestações.
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
Em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas são mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.


Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
E ouvir um sabiá com certidão de idade!


In: Poesias (1925 -1955) . Rio de Janeiro: J. Olympio. 1959. p.5

Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora MG 1901 - Lisboa, Portugal 1975). Poeta, prosador e crítico de artes plásticas. Filho do funcionário público Onofre Mendes e da dona-de-casa Elisa Valentina Monteiro de Barros Mendes. Com a morte da mãe em 1902, o pai casa-se novamente com Maria José Monteiro, considerada pelo poeta sua segunda mãe. Aos 16 anos foge do colégio para assistir, no Rio de Janeiro, à apresentação do bailarino e coreógrafo russo Vaslav Nijinski (1890 - 1950). Nessa mesma época, recusa-se a continuar os estudos. Após várias tentativas da família de fixá-lo num emprego, vai, com o irmão mais velho, para o Rio de Janeiro, em 1920. Entre 1924 e 1929, escreve para as primeiras publicações modernistas, como a Revista de Antropofagia, de São Paulo, e a Verde, de Cataguases, Minas Gerais. Com apoio financeiro do pai, edita, em 1930, o primeiro livro, Poemas, pelo qual recebe o Prêmio Graça Aranha. Após a morte do amigo pintor, filósofo e poeta Ismael Nery (1900 - 1934), converte-se ao catolicismo. Conhece, em 1940, e casa-se sete anos depois com a poeta Maria da Saudade Cortesão, filha do historiador e poeta português Jaime Cortesão (1884 - 1960), exilado no Brasil por se opor à ditadura de Antonio Oliveira Salazar (1889 - 1970). Ao fim de sua estada na Europa, entre 1952 e 1956, cumprindo missão cultural, fixa-se na Itália e leciona cultura brasileira na Universidade de Roma. Seu apartamento na via del Consolato 6, no centro da capital italiana, torna-se ponto de referência para escritores e artistas plásticos europeus, que o ajudam a formar um importante acervo de arte contemporânea, hoje pertencente ao Museu Murilo Mendes, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1972, recebe o prêmio internacional de poesia Etna-Taormina, na Itália.  (Enciclopédia Itaú Cultural).

Extraído do sítio Jornal de Poesia

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