11 de agosto de 2012

VINHOS PORTUGUESES - Jorge Monteiro


A diversidade dos seus vinhos e o carácter gastronómico são os factores que distinguem os Vinhos de Portugal da generalidade da oferta, quer do velho quer do novo mundo vitivinícola.

Tendo a mais antiga Região Demarcada e Regulamentada do Mundo, Portugal soube romper com algum excesso de tradição no seu modo de produção de vinho e é hoje, claramente, visto como o Novo do Velho Mundo Vitivinícola.

Longe vão já os anos em que se iniciou uma silenciosa revolução na viticultura com a reestruturação dos vinhedos no Douro, que se estendeu a todas as regiões demarcadas. Nos anos 90 Portugal detinha já lagares modernos, robotizados capazes de responder às novas exigências quer em termos de segurança alimentar quer da qualidade organoléptica.

Hoje os Vinhos de Portugal caracterizam-se por uma enorme diversidade, vinhos gastronómicos, de terroir, com consistente qualidade e uma excelente relação preço/benefício.

A diversidade resulta do facto de Portugal ter sabido manter uma enorme variedade de castas autóctones, de elevado potencial, associada à capacidade de desenvolvimento de conhecimento sobre essas mesmas castas. 

Contrariando uma tendência mundial de concentração num reduzido número de castas, hoje ditas “internacionais”, Portugal soube preservar e detêm cerca de 250 castas autóctones. Mas num mundo dominando por vinhos varietais, baseado em castas internacionais, comunicar muitas castas torna-se pouco eficaz. Daí a grande aposta da marca Wines of Portugal ter optado promover 10 das mais extraordinárias das suas castas: desde a Touriga Nacional e o Alvarinho, que detêm já reconhecimento internacional, passando pelo Arinto, Encruzado e Fernão Pires, nas castas brancas ou a Tinta Roriz/Aragonês, a Touriga Franca, Tinta Amarela/Trincadeira, Baga e Castelão, nas castas tintas.

Mas se Portugal soube preservar estas castas, contrariando uma tendência global, Portugal soube também desenvolver profundo conhecimento científico sobre as mesmas, seu potencial, condições de desenvolvimento vegetativo, características que conferem aos vinhos, etc.

Portugal é hoje o País com maior diversidade de castas por hectare, sendo assim detentor de um elevado património genético que resistiu à globalização e estandardização.

Mas esta diversidade genética tem uma forte ligação a uma outra característica nacional: a sua diversidade climática. Sendo um País pequeno, a grande variabilidade climática de Norte para Sul ou do interior para o litoral, confere características fortemente distintivas, mesmo para vinhos produzidos a partir das mesmas castas.

Uma terceira característica identifica-se ainda nos Vinhos de Portugal: o domínio da técnica doblend ou seja produzir vinhos de lote, combinando diferentes castas, em contraponto aos vinhos monovarietais, muito comuns nos Novo Mundo vitivinícola. Aliás esta é também um dos traços mais distintivos do Vinho do Porto, um vinho extraordinário, de elevada notoriedade, onde apenas encontramos os vinhos de blend.

Portugal não optou assim pela estratégia, dominante, fazendo vinhos de uma só casta, mais fáceis de captar consumidores. Não faríamos melhores cabernets nem a preços mais competitivos. Mas sabemos fazer excelentes vinhos de lote, com castas únicas, proporcionando experiências sensoriais diferentes.

São sobretudo estas características, castas autóctones, variabilidade climática e blend que conferem aos Vinhos de Portugal um carácter de vinhos de terroir.

Mas se soubemos preservar o que era “local” (as suas castas, as vinhas velhas, etc.) Portugal soube modernizar-se e inovar no que era global – viticultura mecanizada, lagares robotizados, novas práticas enológicas - e daí sermos hoje capazes de garantir uma qualidade consistente e uma excelente relação preço/benefício.

Mas não foi só no património vitícola que Portugal soube preservar. Quando o enoturista percorre o País depara-se, a cada passo, com um património natural ou monumental incrível e respeitado.

Não é por acaso que em quase todas as regiões vitivinícolas encontramos Património Mundial, classificado pela UNESCO. Seja Guimarães, na região dos Vinhos Verdes, os socalcos no Douro, a cidade do Porto, no encontro entre aquelas 2 regiões, Sintra na Região de Lisboa, Évora, na Região do Alentejo, Tomar no Tejo, ou o Pico no arquipélago dos Açores.

Para lá de outros Patrimónios Monumentais, que embora não classificados pela UNESCO, não deixam de ser menos belos: o Bussaco na Bairrada ou o Palácio da Bacalhoa, na Península de Setúbal.

Mas, aliando a história à modernidade, Portugal tem investido também numa “nova” arquitectura nas suas adegas, nomeadamente através de Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura, ambos galardoados com o prémio internacional da arquitectura Pritzker, que desenharam projectos como a Quinta do Portal, a Adega Mayor ou a Quinta do Vallado.

Portugal, tem história, tem cultura, tem património mas tem sobretudo diversidade e o Vinho é um dos expoentes dessa mesma diversidade.

Mas só visitando as nossas vinhas e degustando os nossos vinhos nos apercebemos dessa maravilhosa diferença.

* Jorge Monteiro é Presidente da ViniPortugal.

Extraído do sítio Prove Portugal

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