6 de setembro de 2013

CAMPANHAS PARA PROMOVER A LEITURA GANHAM FORÇA NA RÚSSIA - Aliona Tverítina

Campanha viral demonstrou claramente aos internautas russos como as obras-primas da literatura clássica russa continuam atuais nos dias de hoje.


"Ambientalistas fazem soar o alarme: programadores ameaçam bosque relicto", "Um homem disparou no amigo por causa de uma cantada momentânea", "Esposa de alto funcionário comete suicídio depois de brigar com o amante", "Zelador era, afinal, um cruel caçador de cachorros". Estes e outros títulos chamativos pipocaram nos sites de noticia da Rússia na última segunda-feira (2), o Dia do Conhecimento, quando alunos e estudantes russos retornam às aulas após as férias de verão.

Nos textos dessas supostas notícias estavam codificados temas de obras da literatura clássica russa: "O Jardim das Cerejeiras", de Anton Tchekhov, "Evguêni Onéguin", de Aleksandr Púshkin, "Anna Karénina", de Lev Tolstói, "Mumu", de Ivan Turguêniev. No entanto, os leitores que não foram capazes de identificar os códigos não foram deixados de lado: as manchetes estavam afixadas em um portal onde se dava a transição do texto da notícias para o texto da correspondente obra literária, com a possibilidade de ler ou baixar gratuitamente a versão eletrônica deste último.


"Desse modo, chamamos a atenção do usuário da internet e do visitante dos portais informativos para o fato de que todos os temas encontrados nas faixas noticiosas de hoje estão de alguma forma representados na literatura russa", disse à Gazeta Russa Iúri Púlia, chefe da administração da imprensa, publicação livreira e impressão da Agência Federal de Imprensa e Comunicações de Massa (Rospechat), que juntamente com a União Livreira Russa e a agência de publicidade SLAVA, assumiu a organização da campanha. O principal objetivo é chamar a atenção para a literatura clássica russa, que para muitos cidadãos do país segue apenas como um atributo do currículo escolar.

A campanha de promoção da literatura é uma resposta à alarmante tendência de queda da cultura da leitura, que ano após ano vem sendo revelada pelos sociólogos russos. No verão de 2013, o Fundo Opinião Pública divulgou dados segundo os quais 44% dos russos não tinham lido um único livro no último ano. Igualmente preocupantes foram os dados da campanha de pesquisa TNS “Rossía”, que informavam que o consumo geral de mídia dos cidadãos russos é de cerca de 8 horas por dia, mas que a leitura de livros ocupa apenas 1,8% desse tempo, ou seja, cerca de 9 minutos por dia.

Não é de admirar que, ante esta situação, seja dada especial atenção, inclusive a nível estatal, à promoção da leitura. Em 2006, foi lançado o Programa Nacional de Apoio e Desenvolvimento da Leitura, no âmbito do qual é realizada outra campanha com grande visibilidade. Por exemplo, no projeto do ano passado da Rospechat, o "Ocupe-se com Leitura", dirigida aos adolescentes, os organizadores representaram os grandes escritores clássicos russos Tolstói, Tchekhov e Púshkin em roupa esportiva e colocaram-nos, juntamente com Nikolai Gogol e Fiodor Dostoévski, a declamar um vibrante rap.

Além da Rospechat, as próprias editoras, organizações comunitárias e até mesmo o metrô de Moscou estão promovendo a leitura. Nos últimos anos surgiram algumas campanhas visíveis com bastante regularidade. Na realizada em 2008 pela grande editora AST "Slova za knigu" (Palavra por livro), por exemplo, escritores russos famosos apareciam em cartazes, explicando a importância da leitura. Nos projetos da editora Eksmo "Leia um livro, seja uma Personalidade" e "Leia livros!", populares artistas, bem como jogadores e treinadores russos, falavam dos benefícios da leitura.

Outras campanhas promocionais mergulham de imediato o potencial leitor no ambiente do texto: no metrô de Moscou você pode andar nos trens "Moscou Lendo" e "Poesia no Metrô", em cujas paredes, ao invés da tradicional publicidade, estão fragmentos de obras de ficção, biografias de escritores, ilustrações para as obras e grafia pessoal dos autores. O material exposto é periodicamente renovado.

Lançada em 2012 pela Rospechat, a campanha "Livros nos Parques" transformou cinco locais de lazer dos moscovitas, incluindo o famoso Parque Górki, em áreas de encontro com escritores e, além disso, equipou-as com os chamados "módulos Gogol", que são quiosques onde você pode comprar livros pelo menor preço em Moscou. Para completar o quadro, foram colocados nos parques retratos dos escritores executados pelo método ‘grass art’.

O próximo passo será a criação de clubes de leitores em toda a Rússia. Prevê-se que neles será possível realizar conferências de vídeo com escritores famosos e editores. Os primeiros destes clubes serão inaugurados nas repúblicas russas já em novembro deste ano.

Extraído do sítio Diário da Rússia

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