2 de novembro de 2012

UM ÍCONE DA CULTURA POP, MAD CHEGA AOS 60 ANOS - Thales de Menezes

Criada pelo cartunista norte-americano Harvey Kurtzman, a revista traz violenta sátira cultural e social.

A revista de humor que mais influenciou a cultura pop no século XX chega aos 60 anos na ativa, mas sem o mesmo peso de outros tempos.

Encarnação visual da Mad, o personagem Alfred E. Neuman foi criado em 1954
Mad está mais presente na memória afetiva de gerações de fãs do que nas bancas dos Estados Unidos. Chegou a vender mais de 2,1 milhões de exemplares por edição em 1974. Nesta década, atinge quase 200 mil.

Hoje chega às lojas americanas "Totally Mad", livro que tenta abordar, em 256 páginas, uma história iniciada por Harvey Kurtzman (1924 - 1993), editor completamente insano, e William Gaines (1922 - 1992), herdeiro da então poderosa editora EC Comics.

Com um gibi campeão de vendas na época, "Tales from The Crypt", Gaines deu liberdade para Kurtzman criar um gibi com a proposta de ridicularizar tudo. Tudo mesmo.

A Mad número um é, oficialmente, uma publicação de outubro de 1952, mas chegou às bancas no final de agosto. Emplacou logo de cara, fazendo piada da sociedade americana no pós-guerra.

Como as histórias em quadrinhos eram sujeitas a um rigoroso código de ética, depois de alguns números o título se transformou em revista, com alguns textos no cardápio.

Alfred E. Neuman

O garoto banguela de orelhas enormes que se transformou no símbolo da revista fez sua estreia em 1954. Mas a primeira capa com Alfred E. Neuman só apareceu pela primeira vez na edição 21, lançada em março de 1955.

Muitos críticos destacam a importância de Mad na contracultura dos anos 1960, mas o editor à época, Al Feldstein, sempre defendeu que os hippies também eram alvo de sátiras na revista.

"Ninguém pode ser poupado. O espírito da Mad é fazer as pessoas desconfiarem de todos. Queremos leitores que pensem por si próprios", conta o editor, John Ficarra, à frente da equipe desde 1984.

Tal equipe, chamada na própria revista de "a habitual gangue de idiotas", reuniu cartunistas geniais, como Don Martin, Sergio Aragones, Al Jafee e Dave Berg.

Depois da cara inconfundível de Alfred E. Neuman, transformada em figuras da cultura popular a cada nova capa, talvez a maior marca registrada da Mad seja a sátira de filmes e séries de TV.

Inúmeros artistas construíram essa fama, notadamente Dick DeBartolo nos textos e Mort Drucker nos desenhos. A tradição começou na edição número 6, em agosto de 1953, com "King Kong".

O número 518, atualmente nas bancas americanas, traz o último filme da saga "Crepúsculo". Na capa, Neuman aparece como o filho de Bella e do vampiro Edward.

TV e política

Mudanças no mercado cinematográfico provocaram uma guinada das sátiras da Mad para as séries de TV. Sempre contempladas, elas agora ganham mais espaço.

"Antes um filme ficava meses em cartaz. Tínhamos tempo de assistir a cada um e produzir as sátiras antes que sumissem dos cinemas", explica Ficarra. "Hoje, as séries se prestam melhor a isso".

Com a revista muito mais direcionada à sátira política em um ano de eleição americana, a ideia agora é ganhar uma nova geração de leitores com o blog "The Idiotical" (www.madmagazine.com).

Versão nacional

A Mad já teve quatro editoras brasileiras desde sua primeira publicação, em 1974. O Brasil foi o décimo país a ter uma versão da revista. Até hoje, 24 países já lançaram o título.

Publicada inicialmente pela editora Vecchi, a revista trazia só material original traduzido para o português. A produção brasileira começou a ser inserida na virada dos anos 1980.

Com a falência da Vecchi, a revista ficou alguns meses sem ser publicada, até a Record assumir o título, de 1984 a 2000. Depois a Mad foi para a Mythos, editora em que ficou até 2006.

Desde 2008 é a Panini que publica mensalmente a revista. A editora também solta especiais que aproveitam material antigo, como Don Martin e "Spy vs. Spy".

Uma geração mais nova está descobrindo o estilo de humor da revista, mas na TV. O Cartoon Network exibe em vários horários de sua grade a "Mad TV". Iniciada em 2009, a série é feita de programinhas de quase 15 minutos, com animações rudes, propositalmente toscas, fazendo humor com celebridades.

A estética lembra muito a animação "South Park", ironicamente uma das muitas produções de TV ou cinema que beberam na fonte da Mad.

É bom não confundir a série do Cartoon Network com "MadTV" (1995-2009), programa de esquetes criado pela revista, que sempre perdeu feio na comparação com o "Saturday Night Live".

FIQUE POR DENTRO

Ota, o artista por trás da versão nacional

Caso contemplasse a história da Mad no Brasil, o livro recém-lançado nos EUA teria que dedicar um capítulo inteiro ao carioca Otacílio d´Assunção Barros. Nascido em 1954, Ota (como é conhecido) foi o quadrinhista responsável por editar a primeira encarnação brasileira da revista, em 1975. Ele mesmo um artista dedicado ao riso, com inclinações para a crítica de costumes e os dois pés fincados na estética underground, se esforçou para introduzir material nacional na Mad. Com esforço, Ota conseguiu fazer a revista peregrinar por diversas editoras, fugindo dos cancelamentos. Ele chegou a colaborar com a Panini em sete edições da Mad, mas saiu por desentendimentos editoriais.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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