2 de novembro de 2012

JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO RECEBE PRÊMIO - Nuno Galopim

Fotografia © Steven Governo / Global Imagens

O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, vencedor do Prémio Dário Castro Alves, declarou que a busca da verdade sobre a natureza humana levou-o a escrever sobre Fernando Pessoa e também a participar na Comissão da Verdade no Brasil.

"No fundo, a mesma procura da natureza humana que me levou a escrever sobre (Fernando) Pessoa é o que me apaixona nesta Comissão da Verdade. Os ambientes são diversos, mas a essência permanece", disse o escritor à agência Lusa. José Paulo Cavalcanti Filho recebe hoje, em Lisboa, o "Prémio Dário Moreira de Castro Alves", atribuído pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira (CCILB).

Em 2012, o advogado e escritor brasileiro recebeu o "Prémio Brasília de Literatura", da Bienal do Livro e da Literatura de Brasília, e também o galardão "José Ermírio de Moraes", Livro do ano, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo livro "Fernando Pessoa, uma quase autobiografia". Com a mesma obra - já publicada em Portugal e na 4.ª edição - venceu do prémio Jabuti 2012 (na categoria biografia), da Câmara Brasileira do Livro, sendo um dos galardões mais conceituados no Brasil.

"(A busca da verdade sobre a natureza humana) é a coisa que mais me animou a escrever sobre Pessoa. A obra de Pessoa é uma espécie de testamento, está tudo ali", declarou. Cavalcanti Filho é também um dos membros da Comissão da Verdade, que foi instituída pelo Governo brasileiro para investigar os crimes do período da ditadura militar (1964-1985) e os seus desaparecidos políticos. "Eu acho que o Pessoa gostaria de fazer parte da Comissão, porque você percebe a explosão da natureza humana na sua diversidade e na sua contradição", sublinhou.

O escritor explicou que, por exemplo, as próprias famílias dos desaparecidos políticos no Brasil reagem de formas diversas à ação da Comissão, demonstrando determinação ou indiferença em saber o paradeiro do seu familiar. "Estamos no começo de um trabalho (da Comissão, que foi instituída em novembro de 2011) que tem sido fascinante e, no fundo, é também a busca de Pessoa, a mesma compulsão pela busca da verdade da natureza humana", disse.

O relatório da Comissão, que encerra em maio de 2014, vai trazer toda a bibliografia utilizada, os arquivos localizados, toda a documentação obtida e analisada que, posteriormente, serão divulgados pela Internet para consulta. Cavalcanti Filho disse ainda que a sua aproximação com Portugal surgiu com Pessoa, mas vai além disso agora, pois tem inúmeros amigos portugueses, uma filha que faz doutoramento em Portugal há quase dois anos e possui mesmo propriedades. "No fundo, tudo começou com Pessoa e, depois de me devotar a Pessoa, Portugal veio chegando aos poucos e hoje habita um pedaço do meu coração", declarou.

O escritor brasileiro disse ainda que no Brasil existe uma "devoção" a Fernando Pessoa, "digna de muitos simpósios". Sobre o prémio que recebe hoje, Cavalcanti Filho disse que se sente surpreendido, contente e mesmo um pouco constrangido por este e pelos outros galardões que lhe já foram atribuídos, entendendo que pessoas que completaram um percurso de vida são as que normalmente são agraciadas com tantos prémios.

O prémio "Dário Moreira de Castro Alves" foi instituído em 2004 e os homenageados têm em comum o facto de prestigiarem a cultura e a presença da comunidade brasileira em Portugal. Entre os premiados destacam-se a jornalista Paula Ribeiro (2004), o treinador de futebol Luís Felipe Scolari (2005) e o antigo Presidente português Mário Soares (2006). Dário Moreira Castro Alves foi um escritor, jornalista e diplomata brasileiro (falecido em 2010) que, entre 1979 a 1983, exerceu as funções de embaixador do Brasil em Lisboa.

Extraído do sítio Diário de Notícias

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