15 de novembro de 2012

QUANDO GARCÍA LORCA VISITOU CUBA E CURTIU IMENSO - Ángela Oramas Camero

Federico García Lorca
Segundo constatei através da imprensa da época, que publicou informações sobre a visita realizada à Ilha pelo poeta espanhol Federico García Lorca, aqui curtiu imenso. Em seus escritos durante sua estada, também confessa isso o próprio poeta, o de maior influência e popularidade da literatura espanhola do século 20 e integrante da Geração de 27.

Lorca nasceu em Fuente Vaqueros, Granada, em 5 de junho de 1898 e, entre as povoações de Víznar e Alfacar, foi fuzilado em 19 de agosto de 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, por sua simpatia com a Frente Popular e por ser homossexual.

Estando em Nova York, em 1929, recebeu um convite de Dom Fernando Ortiz, em nome da Instituição Hispânica Cubana de Cultura que presidia, para que ministrasse palestras, onde os intelectuais costumavam expressar ideias inovadoras, alguns deles amigos de Lorca por correspondência, como José María Chacón y Calvo, Enrique Loynaz e Enrique Hernández Catá, pelos quais sabia que na Ilha estava surgindo a corrente vanguardista, a qual ligava o estético com o político, sem esquecer que na época tinha lugar a atividade literária de Nicolás Guillén, Jorge Mañach, Agustín Acosta e outros intelectuais de destaque.

Chegou a Havana em 7 de março de 1930. Uma seleta representação da intelectualidade cubana lhe deu as boas-vindas, entre eles Juan Marinello, quem depois comentaria sobre o autor de A casa de Bernarda Alba: “Possui o poder queridíssimo de evocar gente e muitos outros, bem distantes do presente, é como o poeta dosSonhos, um animador de sombras mágicas”.

O poeta hospedou-se no hotel La Unión, no coração de Havana Velha. Logo, iniciou o ciclo de palestras ministradas de maneira coloquial. Aquela que se referiu às canções espanholas de ninar causou grande admiração entre os assistentes. Várias delas foram interpretadas pela cantora María Tubau, acompanhada ao piano pelo poeta andaluz.

A inícios de abril viajou a Cienfuegos com o casal Muñoz Quevedo. Antes de entrar na bela cidade curtiu a praia verde-azul de Varadero, que lhe lembrou outra de igual nome em sua pequena pátria. Em Sagua la Grande ministrou a conferência “Mecânica da poesia”, no teatro Principal. Depois, em Caibarién, dissertou sobre o poeta Quevedo. Continuou o percurso pela Ilha e chegou a Remédios, onde escreveu aos pais com matizes de diversão e emoções que participou duma caçaria de crocodilos que mediam entre 4 e 5 metros de comprimento.

De retorno ao ocidente, visitou Pinar del Rio e ali foi surpreso pelas espetaculares paisagens de Soroa e Viñales. Da última disse: “... é um local mágico, onde o tempo parou”.

Sem dúvida, Cuba o cativou amorosamente. Por exemplo, gostava de caminhar pelo Malecón (beira-mar) havanense, pelos bairros de Jesús María del Monte e San Isidro...

Ressaltou que Havana “é um Cádiz grande com muito calor e gente que fala muito alto”, com templos e conventos que lhe lembravam os já vistos tantas vezes na Espanha, e teatros só para homens como o Alhambra, que faziam corar as damas de bons costumes.

Na capital cubana enriqueceu sua produção lírica e narrativa, entre elas figuram: Así que pasen cinco años e El Público, obra escrita no hotel La Unión, dedicada a Carlos Manuel Loynaz.

Uma vez comentou que no casarão dos Loynaz as horas passavam rápido ao encontrar-se num ambiente propício para dialogar sobre música, pintura, poesia e teatro. E, junto a Flor, Enrique e Carlos Manuel visitou os mais famosos restaurantes da chamada Havana Elegante como El Floridita e El Templete, onde tomava sua bebida favorita, uísque com soda.

Fascinou-se pelas praias de Marianao, e desfrutou das boates noturnas, com música estridente para amenizar os bailados, locais na época muito frequentados por estrangeiros, prostitutas e cantores.

Aliás, também esteve em Guanajay, Santa María del Rosario, Guanabacoa, Regla e Santiago de las Vegas, a neste último foi acompanhado por Fernando Ortiz e José Antonio Fernández de Castro, em 19 de abril de 1930, correspondendo ao convite da Agrupación Artística Euterpe, em cuja sede recitou Romance de la luna, luna e escutou música típica cubana.

Em Havana, terminou seu trabalho e foi a palestra La arquitectura del cante jondo a que mais impressionou; asseverando que o cantar jondo “é a patética evocação do amor sob outras luas e outros ventos” e somou-se à tese de que é puramente andaluz.

Sobre a visita feita a Santiago de Cuba, às vezes colocada em dúvida, a dra. em Ciências Históricas Carmen Almodóvar assinala: “As provas são dadas por Camila Henríquez Ureña, que constatou que o conheceu em sua própria casa. Durante a fugaz e emocionante estada na heroica cidade oriental, García Lorca escreveu uma dedicatória no livro Canciones, datado nesta cidade oriental, o qual presenteou a Juan Marinello. Também aproveitou sua visita a Santiago de Cuba para falar perante um grande grupo de estudantes, convocados por Max Henríquez Ureña”.

Federico García Lorca presenteou aos cubanos o poema Son de negros en Cuba, convertido em canto a Santiago: Oh, Cuba! Oh, ritmo de sementes secas!/ Irei a Santiago. Oh, cintura quente e gota de madeira! / Irei a Santiago./ Arpa de troncos vivos, crocodilo, flor de tabaco! / Irei a Santiago./ Sempre disse que eu iria a Santiago / num carro de água preta. / Irei a Santiago./ Brisa e álcool nas rodas… Irei a Santiago.

Extraído do sítio Granma

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.