11 de setembro de 2012

LEITURAS EM FRANKFURT AQUECEM INTERESSE PELA LITERATURA BRASILEIRA - Felipe Tadeu


Ciclo de leituras apresenta autores pouco conhecidos na Alemanha como preparativo para a Feira Internacional do Livro de 2013, que terá o Brasil como país homenageado.

Nem tudo é só Copa do Mundo e Olimpíadas. Antes dos dois megaeventos dos esportes desviarem a atenção para o Brasil, a partir de 2014, o país terá outras oportunidades para mostrar que a estabilidade econômica construída nas duas últimas décadas rima com produção artística e intelectual.

A Biblioteca Municipal de Frankfurt e o Consulado Geral do Brasil na cidade vêm abrindo suas portas para escritores como José Castello, André Sant'anna e Adriana Lunardi mostrarem suas obras para os leitores mais curiosos na Alemanha. O propósito da iniciativa, chamada BrasiLesen, é claro: formar novos públicos para a literatura brasileira, grande homenageada da Feira Internacional do Livro em 2013. 

Ainda que não haja medalhas ou troféus em disputa, o Brasil só tem a ganhar em termos institucionais se tiver um bom desempenho na feira editorial. Para Judith Schleyer, do Centro Cultural Brasileiro em Frankfurt (CCBF, que está organizando a BrasiLesen desde março deste ano), a questão vai além da festa: "um dos pontos importantes neste projeto é a sustentabilidade. Desde o início foi preocupação nossa fazer da BrasiLesen algo duradouro", afirmou.

Até o final do ano, a BrasiLesen apresentará leituras de Marcelo Ferroni, autor de Método prático de guerrilha, Luiz Ruffato, que lerá o romance Eles eram muitos cavalos, assim como Patrícia Melo, Marco Lucchesi e Luiz Silva (Cuti).

Ferroni fará leituras também em Munique e Berlim, escalas que Ruffato também cumprirá, sendo que este ainda passará por Worms, chegando até Viena e Salzburgo na Áustria, e também Berna e Zurique, na Suíça.

O brasileiro José Castello e o moderador alemão Michael Kleger em Frankfurt

Momento oportuno 

"A literatura brasileira conseguiu um maior interesse por parte das editoras alemãs no momento em que a notícia de que o Brasil seria o país homenageado em Frankfurt coincidiu com o lançamento de um apoio (do governo brasileiro) à tradução", observa Michael Kegler, tradutor alemão encarregado de moderar a maioria das leituras na biblioteca frankfurtiana.

Kegler, que já verteu para o idioma de Goethe diversos autores da língua portuguesa – do brasileiro Fernando Molica ao angolano José Eduardo Agualusa –, é um entusiasta da literatura brasileira, sendo integrante da equipe que seleciona os autores para as leituras do CCBF ao lado das agentes literárias Nicole Witt, Petra Maisky e Anja Saile, do livreiro português Teo Ferrer Mesquita e de Carlos Frederico Graf Schaffgotsch, um dos diretores do CCBF.

Kegler, que está envolvido com a tradução de mais um romance brasileiro, o Diário da queda, de Michel Laub, comemorou há pouco o fato de ter conseguido uma editora na Alemanha para lançar Os leopardos de Kafka, de Moacyr Scliar.

Schleyer diz ver boas perspectivas com a escolha do Brasil para ser o país homenageado da Feira de Frankfurt em 2013, 19 anos depois da primeira participação verde-amarela no evento. "Em 2013, com cada vez mais livros brasileiros saindo em edições alemãs e com as feiras de Leipzig e Frankfurt, o impacto (da literatura brasileira) na imprensa será muito maior. O interesse de todos é que esse impacto continue nos anos seguintes, pois a Biblioteca Nacional está com um programa muito bom de apoio à internacionalização da literatura brasileira", afirmou a bibliotecária.

Desafio de ser duradouro

Será que as autoridades brasileiras estão aptas a promover uma bela performance do país homenageado? "A presença em 1994 foi no século passado. O papel do Brasil neste começo de século e milênio é outro. Para mim, o desafio – que é muito difícil de vencer e que poucos países alcançam – é que todo esse esforço de apresentar a cultura de um país seja duradouro. Poucos são os convidados de honra cuja literatura e cultura se fincaram na lembrança dos alemães", afirmou Schleyer, que destacou a Holanda e a Islândia como bem-sucedidos nesse aspecto.

Para Kegler, a participação em 1994 deixou boas lembranças. "Foram publicados livros magníficos, clássicos como Os Sertões (de Euclides da Cunha) e novas vozes da época, como o lamentavelmente já falecido Caio Fernando Abreu. Depois de 94, o Brasil se encostou, caindo num cochilo, satisfeito em relação à internacionalização de sua literatura."

Um erro que Kegler gostaria de ver evitado em 2013. "Pelo que ouvi, o Brasil se apresentará como um país de literatura, de bons prosadores e poetas, de temas literários inusitados, deixando as praias um pouco de lado, pois isso todo mundo já sabe."

Já se foi o tempo em que a literatura brasileira era sinônimo exclusivo de exotismos tropicais para os leitores europeus. Prova disso foi a leitura do romance Ribamar, escrito por José Castello, que se realizou na noite de 3 de setembro em Frankfurt. O livro, que foi laureado no Brasil com o prestigiado Prêmio Jabuti em 2011, trata de um tema de caráter existencialista, enfocando a carta de um filho ao pai depois da morte deste. Uma obra densa, inspirada por Franz Kafka, que de carnaval não tem nada. E a Biblioteca Municipal de Frankfurt estava cheia.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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