4 de setembro de 2012

JORGE AMADO ERA "UM HOMEM SIMPLES" E "BRINCALHÃO", RECORDA O TRADUTOR CHINÊS


Pequim, 03 set (Lusa) - Vinte e cinco anos depois do seu encontro com Jorge Amado, Fan Weixin recorda sobretudo a "simplicidade" e "boa disposição" do grande escritor brasileiro, nascido há um século.

"Apesar de famoso, Jorge Amado era uma pessoa simples", conta Fan Weixin, um dos mais conceituados tradutores chineses de português, cuja obra inclui a tradução de quatro títulos do autor de "Gabriela, Cravo e Canela".

"Como a Zélia, ele era um brincalhão, gostava de rir e de conversar", acrescenta.

O encontro com Jorge Amado - o primeiro de três no espaço de apenas um ano - ocorreu num hotel de Pequim no verão de 1987, quando o escritor, cujo centenário do nascimento se assinalou a 10 de agosto, visitou pela primeira vez a China.

Jornalista da secção portuguesa da Rádio Internacional da China, nascido em 1940, Fan Weixin já tinha traduzido "Mar Morto" e estava a ultimar a tradução de "Dona Flor e seus dois Maridos", em colaboração com Sun Chengao.

"Traduziu mesmo tudo?!!", quis saber Jorge Amado acerca do segundo livro, cuja atmosfera se ajusta mal aos "padrões socialistas" mais ortodoxos.

"Literalmente", respondeu Fan Weixin.

"E eles autorizaram?!", insistiu o escritor.

Ao recordar este diálogo, o tradutor refere que, no tempo da "Grande Revolução Cultural Proletária" (1966-76), a publicação daquele romance "seria impossível".

Desde o final da década de 1970, a China seguia outra política, de "Reforma Económica e Abertura ao Exterior", e o Ministério da Cultura era dirigido por um conhecido escritor acusado outrora de "direitista", Wang Meng.

A versão chinesa de "Dona Flor e seus dois maridos" teve, aliás, uma tiragem de 102.000 exemplares, salienta o tradutor.

Fan Weixin traduziria mais dois livros de Jorge Amado ("O Capitão de Longo Curso" e "Tocaia Grande"), mas, entretanto, esteve um ano em Portugal, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, e descobriu a literatura portuguesa.

"Quando soube que eu iria para Lisboa, ele escreveu uma 'carta de apresentação' para vários escritores e críticos literários, que me ajudou muito", conta.

Entre os nomes indicados por Jorge Amado, com as respetivas moradas e número de telefone, Fan Weixin recorda José Saramago, Lídia Jorge, Álvaro Salema, Miguel Torga e João de Melo: "Lembro-me que no caso de Álvaro Salema, que já tinha mais de 70 anos, ele recomendou que não telefonasse antes das 11 da manhã".

Jorge Amado (1912-2001) tem treze livros traduzidos em chinês, sendo hoje um dos autores brasileiros mais conhecidos na China, juntamente com Paulo Coelho.

A sua obra começou a ser publicada na China na primeira metade da década de 1950, quando Jorge Amado ainda era membro do Partido Comunista Brasileiro, mas não diretamente traduzida do português.

A primeira turma de português da Republica Popular da China - de que Fan Weixin fez parte - só seria constituída em 1960 na Rádio Internacional da China, com o apoio de professores brasileiros.

Na década de 1990, Fan Weixin traduziu Saramago, Miguel Torga e Eça de Queiroz.

Fan Weixin já está reformado, mas não para: este ano concluiu a tradução de mais um título de Saramago, "Ensaio sobre a Lucidez", que deverá sair até ao final de 2012.

Extraído do sítio Sapo Notícias

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.