16 de agosto de 2012

BENJAMIN MOSER: "AS PESSOAS COSTUMAVAM FICAR APAIXONADAS POR LÚCIO - Diogo Guedes

Americano, autor de uma das melhores biografias de Clarice Lispector, fala da relação entre os dois em entrevista ao Jornal do Commercio do Recife.

O pesquisador americano Benjamin Moser, autor da biografia de Clarice Lispector, intitulada Clarice, conversou com o Jornal do Commercio sobre a influência de Lúcio Cardoso na vida e na obra da autora de A paixão segundo G.H.. Veja a entrevista abaixo.

Jornal do Commercio - Como Lúcio e Clarice se conheceram? Por que Lúcio fascinou tanto a jovem Clarice?

Benjamin Moser - Eles se conheceram na redação do jornal onde trabalharam juntos, e Lúcio fascinou a jovem Clarice como fascinou muita gente: era bonito e sobretudo brilhante, um dos grandes gênios naturais da literatura brasileira. As pessoas costumavam ficar apaixonadas por ele - ela era longe de ser a única.

JC - Lúcio foi um dos primeiros a fazer Clarice circular pelos meios literários mineiros. Como ele, em sua relação com Clarice, ajudou-a a se tornar escritora?

Moser - Ele a ajudou a se atrever a publicar Perto do coração selvagem. Ela achou horrível, só fragmentos, e ele falou que o livro estava completo assim mesmo, e até deu o título, emprestado de Joyce, para ela.

JC - Lúcio foi o grande amor de Clarice, ainda maior que seu marido e Paulo Mendes Campos? Por que ele afastava tanto a escritora?

Moser - É impossível dizer se ele era "o" grande amor dela, pois teve vários ao longo da vida. O que é certo é que ele foi o primeiro, e como sabemos nunca esquecemos o primeiro amor. Ele não a afastava - ele simplesmente era gay e, por razões óbvias, não podia rolar. 

JC - A relação com (e a rejeição de) Lúcio marcou bastante Clarice. E Lúcio, como reagia a essas aproximações? Como via Clarice? Eles foram próximos até a morte do escritor mineiro?

Moser - Não acho que foi rejeição, foi só uma impossibilidade por causa da sexualidade dele. Ele amou e admirou Clarice até o fim da vida, e falou uma vez que ela, junto com Guimarães Rosa, era um dos "dois príncipes da língua brasileira". Hoje em dia isso parece óbvio, mas ele era um dos primeiros a ver isso. Eles sempre foram amigos, e até se encontraram no hospital em 1966, quando depois de um derrame ele não podia mais falar, e quando ela quase tinha morrido num incêndio. Foram amigos no início da vida e ficaram amigos até o fim da vida.

Extraído do sítio Jornal do Commercio

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