5 de fevereiro de 2012

SALGUEIRO CONTARÁ HISTÓRIAS DA LITERATURA DE CORDEL NO CARNAVAL

Dos versos e rimas dos cordéis veio a inspiração para o carnaval da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, do Grupo Especial do Rio, para este ano. Poético, lúdico e arretado, assim promete ser o desfile da vermelha e branca da Zona Norte que vai levar para a Marquês de Sapucaí o enredo “Cordel branco e encantado”, dos carnavalescos Renato e Márcia Lage.

Desfile terá tema com viés rústico, popular e raízes regionalistas. Foto: Rodrigo Vianna / G1

Dois anos após levar para a Avenida os livros que marcaram época com o enredo “Histórias sem fim”, o Salgueiro volta apostar na literatura para conquistar o décimo título de campeã do carnaval carioca, o último foi em 2009, com “Tambor”. É com a mesma força do cangaço e fé dos nordestinos que a vermelha e branca promete fazer o seu carnaval, dessa vez, sem imprevistos.

Tema com viés rústico, popular e com raízes regionalistas, a literatura de cordel também inspirou a “furiosa”, como é conhecida a bateria do Salgueiro, comando do mestre Marcão. Zabumba, sanfona e triângulos vão se juntar aos pandeiros e tamborins numa ousada mistura de samba com baião. Segundo Marcão, os ritmistas responsáveis pelo “novo som” são da própria comunidade.

“A ideia surgiu do próprio enredo. O baião é um ritmo com um compasse que se encaixa perfeitamente ao samba. Ele casa com as bossas (como são chamadas as paradinhas), formando uma cadência não vista antes. É um risco, mas sei que não só a Sapucaí, mas os jurados também vão se emocionar com a ‘furiosa’”, disse ele, que está há oito anos no comando da “furiosa”.

A agremiação vai representar na avenida obras, personagens e cenários que fizeram história com os folhetins em todo o país. Segundo Renato Lage, a escola vai mostrar imagens comuns neste tipo de literatura, que aborda temas históricos, religiosos e fantásticos. Com direito a coroação e transformações em plena Avenida, os escritores também não serão esquecidos.

“Vamos mostrar as imagens dessas obras maravilhosas, como ‘O Pavão Misterioso’, essa abordagem que eles fazem da poesia, em cima do misterioso, dos fatos históricos. A gente vai mostrar personagens citados na literatura de cordel, como, no religioso, Padre Cícero, na história, Lampião, no fantástico, as assombrações, como a cobra boitatá, a caipora e o lobisomem”, contou.

Reis e cavaleiros em feira nordestina

Depois de levar o King Kong na Central do Brasil no carnaval de 2011, o Salgueiro vai manter o bom humor neste ano, mas de uma maneira mais poética e sutil. O abre-alas vai representar um feira medieval, mas com referências nordestinas. Reis, rainhas e cavaleiros vão se misturar a cangaceiros e mamulengos para mostrar a origem da literatura de cordel no Brasil.



“O carro terá alguns signos medievais, como escudos, reis e cavaleiros, mas o que predomina é mais essa coisa do folclore. Algo bem feira nordestina, mas medieval, dentro dessa brincadeira que a gente quer propor. Esse enredo já é um enredo muito mais cultural, muito mais regional, tem todo um tom poético que é próprio do tema. Ele é alegre por ser colorido”, disse Renato.

Um dos contos mais famosos da literatura de cordel, “O pavão misterioso”, de José Camelo de Melo Rezende, virá representado num dos sete carros alegóricos que o Salgueiro vai levar para a Sapucaí. O carnavalesco Renato Lage adiantou que a alegoria funcionará como uma espécie de geringonça, com vários movimentos. Para ele, a alegoria promete causa impacto na Avenida.

“’O pavão misterioso’ é um folheto cujos ‘objetos misteriosos’ possuem um quê de realidade, demonstrando uma vez mais que a magia é parceira e precursora da ciência. Então a gente vai fazer essa coisa de uma forma meio lúdica e fantasiosa, que é muito bacana. E esse pavão vem grandioso, representado como uma grande geringonça, cheia de engrenagens”, disse Renato.

Bateria virá de Lampião

Se em 2011 a bateria chamou a atenção ao entrar na Avenida vestida como os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), este ano os ritmistas virão de Lampião. Já a fantasia da rainha Viviane Araújo ainda é mantida em segredo pelo carnavalesco.

Renato Lage adiantou, ainda, que as baianas virão no mesmo setor da “furiosa, representando Maria Bonita, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Gleice Simpatia serão “o brilho do sol do sertão” e “o luar do sertão”.

Grande, folclórica e com muito luxo. Assim pode ser resumida a alegoria que vai representar “A barca da encantaria”, outro clássico da literatura de cordel. Já o quinto carro, vai representar os mitos e as lendas, com esculturas de personagens folclóricos como a mula-sem-cabeça, boitatá e o lobisomem. Este último, aliás, vai se “transformar” em plena Avenida, no meio do desfile.

Para encerrar o desfile, o Salgueiro fará uma homenagem aos poetas com uma grande coroação: “No final desse carnaval nós faremos uma homenagem, uma coroação a todos os poetas nordestinos dessa literatura maravilhosa e popular que é o cordel. A gente pede licença para mostrar essa arte, com o nosso estilo, e fazer deste um carnaval arretado”, concluiu Renato.

Depois do quinto lugar em 2011, o Salgueiro será a terceira escola a desfilar na segunda-feira (20), entre 23h10 e 23h44, com 3,8 mil componentes e 35 alas, buscando ocupar o lugar mais alto do pódio. O samba de autoria de Marcelo Motta, Tico do Gato, Ribeirinho, Dílson Marimba, Domingos PS e Diego Tavares será interpretado por Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa.


Extraído do sítio do Portal Vermelho

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