1 de fevereiro de 2012

O QUE HÁ EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO... - Álvaro de Campos


Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço. 

A sutileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas — 
Essas e o que falta nelas eternamente —; 
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço. 

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada — 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser... 

E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
Um supremíssimo cansaço, 
Íssimo, íssimo, íssimo, 
Cansaço...


Extraído do sítio Jornal de Poesia

2 comentários:

  1. Alvaro de Campos se inspirou num determinado personagem.....mera coinscidência?

    ResponderExcluir
  2. Álvaro de Campos È um personagem... e fez poesias que aprecio.

    ResponderExcluir

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.