4 de fevereiro de 2012

TELÓ, BBB E A "PATRULHA DO BOM GOSTO" - Marcelo Cabral

(Crédito da imagem: G. Kapustjanskiy / CC-BY-SA 3.0. Fonte: Wikimedia Commons - "Soviet soldiers in Great Patriotic War").
“Tenho enorme receio quanto a essa patrulha do ‘bom gosto’ envolvendo música”. Com estas palavras, em seu twitter, o talentoso músico e produtor paulistano Daniel Ganjaman, do núcleo de produção musical INSTITUTO, disse exatamente o que eu estava pensando naquele momento. Nem sei sobre o que exatamente Ganjaman estava falando, mas mandei retweet na hora, dado a alvoroço sobre a “polêmica” manchete de capa da revista Época, que vendia Michel Teló como queridinho da classe média brasileira, o que parece ter ofendido a parcela que se considera mais “pensante” deste mesmo segmento. 

Cara, você não gosta da música do Michel Teló? Grande coisa, também não gosto, então, desliga o rádio, muda a estação ou coloca o teu mp3 do Chico Buarque pra tocar no som chic do seu carro, meu bem! Não gosta de BBB? Então, C@%*#¨! Muda de canal, e não enche o saco!

Ao bem da verdade, como muita gente que não acompanha este gênero de música, eu também soube de Michel Teló quando vi o garoto estampado na capa da Época, enquanto procurava minha edição mensal da revista Vertigo. Só fui escutar, de verdade, a tal música, muito depois de escutar as indignadas reclamações sobre a canção do rapaz. Coisas incríveis como “isto devia ser proibido”, ou “onde este país vai parar?” e um sem número de posturas deste tipo. A meu ver: Elitistas e preconceituosas, por mais eu que defenda o direito das pessoas manifestarem suas opiniões democraticamente e tal. Afinal, estou fazendo isto agora.

Quanto à música em si, pensei que encontraria uma verdadeira ode ofensiva contra a moral, os bons costumes, e a civilização ocidental como um todo... já estava quase gostando do sujeito. Imagine minha decepção ao encontrar uma dessas canções facinhas e inofensivas, projetadas pra dar certo e colar como chiclete na cabeça e nos quadris do belo povo brasileiro. Super pop. Sucesso total. Qual a surpresa nisso? 

Fico pensando que muita gente desta suposta “elite intelectual” poderia colocar suas brilhantes cacholas para pensar coisas mais importantes, em construir soluções para problemas mais relevantes, se é que Teló é problema, eu não acho. Só o setor cultural mesmo, por exemplo, tem várias questões práticas para serem pensadas hoje no país e regionalmente. Muitas das pessoas da “patrulha do bom gosto” reclamam de pagar 20 ou 30 reais para assistir espetáculos de artistas e autores locais, que eles consideram “de qualidade”, em suas cidades, mas estão preocupadas com o que o pessoal escuta no rádio ou assiste na TV. 

O mal televisivo do século 

Sobre o Big Brother Brasil, mal começou a edição deste ano, já começa a chover emails na minha caixa de entrada. De “intelectuais” indignados com a pobreza de conteúdo, da baixaria, da banalização disso e daquilo, blá, blá, blá. 

Pessoal. O BBB esta em sua DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO (12ª) no Brasil. De novo a pergunta: Qual é a surpresa??? 

É um formato que vingou totalmente na televisão mundial do reality show. A idéia de colocar alguns humanos como ratos de laboratório em um daqueles pequenos labirintos de vidro funcionou. Os outros formatos televisivos passavam por certo desgaste, etc e tal. Alguém surgiu com este formato. Deu certo. Pimba! Enquanto o povo gostar, o pessoal da TV ganha sua grana, os anunciantes vendem seus produtos, quem gosta de assistir tem sua diversão, e todo mundo fica feliz. Fim da história. A mesma coisa com o Michel Teló, o menino tem uma super produção, esquemão profissional, deve estar empregando um monte de gente, de roadie a técnico de som, ao ambulante que vende um rango de rua na saída do show dele. Enfim, deixem o menino ganhar seu dinheiro em paz caramba!

Resumindo então. Meu recado pra “patrulha do bom gosto” é viva e deixe viver meu caro. Escute e assista o que quiser, o controle remoto é sua maior arma, mas não seja o ditador do gosto dos outros. Ou como dizia o poeta, “cada um no seu quadrado”. Se quiser chorar as pitangas do mau gosto nacional, faça isso entre os seus, durante o chá das 17:00h, mas não fica entupindo as redes sociais e indefesas caixas de emails da gente humilde e trabalhadora como eu, de “menas leitxura”, que, certamente, não precisa de sua ação vigilante para nos defender dos males da cultura de massa contemporânea. 

O caso Veríssimo

Este, pra mim, foi o cúmulo do patrulhamento, do tipo mau-caráter e mentiroso. Papo de falsidade ideológica. Vejam só. Os patrulheiros chegaram ao ponto de criar textos e perfis fake de personalidades para dar credibilidade a sua propaganda anti-mau-gosto e anti-BBB. O Luís Fernando Veríssimo, conta, via Blog do Noblat, sobre o tal texto atribuído a ele, que não é de sua autoria, mas assinado como sendo dele e que circula na rede, criticando o BBB. No blog, ele diz que as pessoas não se conformam quando ele esclarece que não escreveu aquilo. Muito engraçado. Vale à pena conferir aqui

Quando digitei o nome do escritor Veríssimo e do popular programa televisivo na busca do Google, o resultado mostrou o texto falso atribuído a Veríssimo, que desce a marreta no BBB, postado e re-postado com orgulho paladino em diversos sites, na sua maioria, religiosos. Parece que finalmente, “intelectuais” e religiosos encontraram uma luta em comum para partilhar. Que Deus tenha piedade de nós. 

Extraído do Blog Da Vida e Do Mundo

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