1 de novembro de 2012

NOVO CENÁRIO NOTURNO FAZ CIDADE BAIXA SE REINVENTAR - Mauro Belo Schneider e Roberta Fofonka

Eduardo Natalício é proprietário de bares como o Dona Neusa, Dona Zefinha, Dudu's e Natalício. Foto: Marco Quintana/JC

Após as novas normas de horário para os bares, cujo fechamento foi estabelecido para as 2h, reclamações de alguns moradores por conta do barulho e insatisfação dos empreendedores, que defendem a boemia, o bairro Cidade Baixa vem se reinventando. Nomes de peso da noite gaúcha se mudaram para a Lima e Silva, deixando a rua com ares mais sofisticados – o que agrada alguns e frustra outros.

Quem frequentava a Cidade Baixa motivado pela diversidade de estilos e presença de pequenos bares típicos do bairro, hoje encontra no local os mesmos nomes de áreas nobres, como a Padre Chagas, no Moinhos de Vento, ou a Zona Sul. A professora dos cursos de Publicidade e Propaganda e Administração de Empresas da ESPM-Sul, Lidiane Rohde, diz que esta foi a solução para evitar a perda de clientes.

“Houve elevação do poder aquisitivo dos jovens porto-alegrenses, levando mais gente ao Moinhos de Vento. Os empreendedores da Cidade Baixa começaram a pensar: ‘se a gente não oferecer opções similares, perderemos nosso público’”, explica ela. Lidiane acrescenta que as reformas dos estabelecimentos e a padronização mais charmosa também satisfaz a demanda da nova classe C, que está mais exigente.

Um dos experts sobre a região é Eduardo Natalício, 31 anos. Nascido em Pernambuco, mudou-se para Porto Alegre em 2004, trazendo na bagagem a revolução do conceito de boteco para o Rio Grande do Sul. “Em 2006, quando abri o primeiro Boteco Natalício, no Centro, esse termo trazia um tom pejorativo”, diz ele. Hoje, várias outras marcas se inspiraram na ideia e transformam o título em algo chique. Boteco do Tirol, Boteco da Oca, Boteco Pedrini, entre outros, compõem o cenário gaúcho neste segmento.


Apenas na Lima e Silva, Natalício possui outros empreendimentos além do Churrasquinho Natalício, em funcionamento desde agosto. Entre eles, o Dona Neusa, aberto em 2008, em homenagem à avó, o Dona Zefinha, inaugurado em 2010, e o mais recente é o Dudu’s, lançado neste ano, que oferece diversas opções de cachorros-quentes na rua Sarmento Leite – negócio inspirado em Chicago.

Natalício é um apoiador da manutenção da Cidade Baixa como um circuito boêmio. “A boemia é ponto turístico em diversas cidades. Pessoas vão ao Rio de Janeiro para conhecer a Lapa e a São Paulo para visitar a Vila Madalena, por exemplo. Em qualquer lugar do mundo, existe boemia, e aqui em Porto Alegre estão tentando acabar com isso. Tudo que acontece de ruim na Cidade Baixa tem muito mais repercussão do que nos outros bairros”, observa. O empresário pontua, ainda, que hoje em dia a maioria dos turistas homens que chega a Porto Alegre acaba optando por casas que ofereçam serviços sexuais como entretenimento - por ser a principal referência noturna da cidade. Isso seria resultado da extinção das demais alternativas, como a Avenida Goethe, e a desvalorização da Cidade Baixa como atração para os viajantes.

Para recuperar consumidores que abandonaram a Cidade Baixa, foi criada a Associação Cidade Baixa em Alta. O projeto realiza diversas ações a fim de levantar a “moral” da área, inclusive durante o dia. Aos sábados são realizadas peças de teatro, exibição de filmes a céu aberto e shows em horários mais acessíveis, opções que contemplem diferentes faixas etárias.

Vídeo: Eduardo Natalício fala sobre a noite na Cidade Baixa

“É preciso valorizar o bairro como um todo, não somente a parte noturna. É uma área boêmia de potencial cultural muito representativo em Porto Alegre”, destaca Thiago Faccio, responsável pelo projeto na agência Woodoo. Ele afirma, inclusive, que as medidas procuram transformar o bairro em um lugar bom tanto para moradores quanto para frequentadores e comerciantes. “A primeira ação do projeto foi lançar um manual com diretrizes de boa convivência”, exemplifica. Sobre as reformas dos estabelecimentos, Thiago diz que a situação também está relacionada às medidas propostas pela Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) de regularização e liberação de alvarás, e não somente ao aspecto estético, como alguns imaginam.

Chegado há pouco na região, no dia 26 de agosto, o Kiosque Brasil levou a experiência de 10 anos de atuação na Avenida Assis Brasil, na Zona Norte, para o local. “Estava faltando algo nesse estilo na Lima”, ressalta o proprietário Edgar Niedermeier, de apenas 21 anos, mas já pai de família, como destaca. Ele explica que a opção pelo segundo endereço se deve à Copa do Mundo. “Aqui, tudo é tematizado do Brasil. Cada espaço representa um estado brasileiro”, descreve o jovem empresário, reforçando o coro de que a Cidade Baixa é um dos únicos bairros boêmios que sobrou na Capital.

Extraído do sítio Jornal do Comércio

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