9 de fevereiro de 2013

UNIDOS DA TIJUCA LEVA A "ALEMANHA ENCANTADA" PARA O SAMBÓDROMO - Patrick Moraes


Com um enredo que vai dos irmãos Grimm à alta tecnologia, a escola de samba carioca vai homenagear a Alemanha no seu desfile de carnaval. Dificuldade em arrumar patrocinadores marcou preparativos.

Geralmente associados a um perfil sisudo e introspectivo, os alemães querem virar o jogo na maior festa popular do Brasil. O país europeu e suas contribuições para o mundo serão os temas da apresentação da Unidos da Tijuca, atual campeã do carnaval carioca, neste domingo (10/02), no Sambódromo do Rio.

Com o enredo "Desceu num raio, é trovoada! O deus Thor pede passagem pra contar nessa viagem a Alemanha encantada", a escola de samba vai exibir na avenida uma mescla de elementos do folclore alemão com um lado mais moderno e festivo, representado pelas inovações tecnológicas e forte presença cultural.

Com o apoio do Consulado Geral da Alemanha no Rio de Janeiro e do Instituto Goethe, o desfile marca o lançamento informal do Ano da Alemanha no Brasil, celebração que promoverá uma série de apresentações culturais e intercâmbios entre os dois países, entre maio de 2013 e maio de 2014, com o objetivo de fortalecer e ampliar as relações já existentes.

"Queríamos aproveitar o carnaval para chamar a atenção para o programa", afirma Harald Klein, cônsul alemão no Rio. Para o diplomata, a maioria dos brasileiros ainda tem uma visão antiquada do país europeu. "Tem muitos que ainda não conhecem a Alemanha tolerante, sustentável e com forte inclinação cultural e tecnológica."

Dificuldades com os patrocinadores

Este velho conhecido dos brasileiros tem lugar garantido no desfile da Unidos da Tijuca
A apresentação deste domingo à noite é o ápice de um projeto desenvolvido desde março passado. Logo após a vitória da Unidos da Tijuca, em 2012, o carnavalesco Paulo Barros, responsável pela criação do desfile, e alguns representantes da diretoria da escola de samba visitaram a Alemanha, a convite do governo local, para conhecer a faceta mais contemporânea do país e começar a desenvolver o enredo.

A colaboração, no entanto, não se traduziu em investimento direto do governo, que bancou apenas a viagem. Entre todas as empresas alemãs procuradas pela Unidos da Tijuca, apenas três aceitaram contribuir com a apresentação: a montadora Volkswagen, a farmacêutica Merck e a fábrica de ferramentas motorizadas Stihl.

O trio financiou cerca de 20% do desfile, orçado em R$ 10 milhões. Todos os outros apoiadores são brasileiros. Anualmente, o governo e a prefeitura do Rio de Janeiro, junto com empresas estatais nacionais, dão uma ajuda de custo às escolas de samba, complementada pela venda dos direitos de transmissão para a TV.

A falta de patrocínios desapontou a escola de samba carioca. "Houve preconceito por parte das empresas alemãs em participar do carnaval carioca. Elas associam o evento à zona, bagunça, quando na verdade é a maior festa popular do Brasil, em que cada escola tem 80 minutos de exibição na televisão e é vista pelo país inteiro", afirma Bruno Tenório, diretor de marketing da Unidos da Tijuca.

"Da mesma forma que nós quebraremos velhos clichês associados à Alemanha, ainda presentes na cabeça dos brasileiros, também seria ótimo que nosso desfile contribuísse para mudar a mentalidade alemã sobre o nosso carnaval. É incrível que eles não percebam a enorme oportunidade de negócios que desperdiçaram", complementa.

Da mitologia à era moderna

Goethe, maior poeta alemão, não poderia ficar de fora
Dissonâncias à parte, a Unidos da Tijuca entrará na avenida, neste domingo à noite, com quatro mil integrantes e oito carros alegóricos. O desfile foi dividido em blocos temáticos, que homenageiam facetas diversas da Alemanha. "Nossa ambição é mostrar todas as contribuições positivas que os alemães tiveram para o mundo nos campos da arte, ciência e tecnologia. Eles têm uma cultura riquíssima, desde os tempos da mitologia até a era moderna", explica o diretor de carnaval da escola, Ricardo Fernandes.

Logo após a comissão de frente, um segredo guardado a sete chaves por Paulo Barros e pela diretoria da escola, surge a figura do deus Thor, que celebra a tradição da mitologia germânica junto a outros seres fantásticos, como gigantes, duendes, elfos e gnomos, protagonistas até hoje de histórias extraordinárias que misturam homens e divindades.

O setor seguinte é dedicado à influência alemã nas artes, com sua forte presença no cenário da música erudita, cinema e literatura. Neste bloco, serão feitas referências às sinfonias de Beethoven, à dramaturgia criada por Bertold Brecht e à literatura de Goethe. No carro alegórico virá um anjo azul, homenagem ao filme homônimo estrelado por Marlene Dietrich nos anos 30.

João e Maria, dos irmãos Grimm, serão lembrados
Logo depois, os irmãos Grimm também serão lembrados com seus contos de fada. Em um carro alegórico, os personagens dos autores, como a Branca de Neve e a dupla João e Maria, estarão escoltados por bonecos Playmobil, outra criação alemã. Haverá ainda um parque com tobogã e piscina, ilustrando o caráter lúdico do universo infantil.

Em seguida, surgem as inovações tecnológicas feitas na Alemanha. Serão lembrados o dirigível zepelim, o raio-x, a impressão de manuscritos e os famosos carros germânicos. Num dos carros alegóricos haverá a réplica de um Fusca, automóvel popular da Volkswagen que fez grande sucesso no Brasil e no mundo na segunda metade do século passado.

O desfile é encerrado com a celebração da gastronomia e bebida alemã, em uma ala que exibe as famosas würsts (salsichas) alemãs e um carro que receberá imensas tulipas de cerveja. "Não há nada melhor do que terminar o desfile brindando com cerveja, o elemento que une os sambistas e os alemães", brinca Fernandes, confiante que a homenagem à Alemanha manterá o alto padrão alcançado pela Unidos da Tijuca nos últimos três anos, quando a escola foi campeã duas vezes, em 2010 e 2012, e vice em 2011.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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