9 de fevereiro de 2013

ESTAMOS DE OLHO! - Mayara de Araújo

Em parceria com o Ibram, museus reforçam segurança visando à Copa das Confederações e ao Mundial de 2014

Neste início do ano, o Instituto Brasileiro de Museus, vinculado ao MinC, voltou a alertar os museus do país quanto à revisão de seus planos de segurança. O alerta é motivado, sobretudo, pela proximidade de grandes eventos internacionais, como a Copa das Confederações, neste ano, e a Copa do Mundo, em 2014, que deverão aumentar o fluxo de visitantes.

Equipamento teve todo o sistema elétrico trocado em 2008 e revisado recentemente, em 2011 Fotos: Fabiane de Paula/Kid Junior
Como documentou o próprio Ibram em "Segurança nos Museus - Cadernos Museológicos Volume 1", publicação lançada em 2011, os museus não são apenas espaços de conflitos simbólicos, de ordem conceitual, mas também a raridade e exclusividade de suas peças acabam promovendo embates materiais. O documento debate acerca de diversos tipos de ameaça a segurança, de desastres naturais a vandalismo. E revela quão desafiadora é a manutenção da história e da identidade brasileiras, resguardadas em museus.

"Em um desastre, edifícios e casas podem ser repostos. Apenas o patrimônio cultural e a vida das pessoas não voltam. Fica a memória, a imagem, mas ninguém pode repor", afirma o presidente do Ibram, José do Nascimento Junior.

Segundo Nascimento, durante o Conexões Ibram, em março do ano passado, a Secretaria de Cultura e o instituto assinaram um termo de parceria. Entre outros, um dos itens se refere ao programa de risco ao patrimônio museológico.

"Essas parcerias nos ajudam a mapear situações e adequar os museus a normas. Vamos receber um fluxo muito grande de pessoas e os acervos precisam estar assegurados", comenta.

Em março deste ano, uma das ações ligadas a essa parceria é a constituição de equipes de conservação e segurança. "Queremos que cada estado tenha um multiplicador. Para isso, vamos promover um treinamento com Cristina Menegazi, especialista da Unesco em patrimônio e risco, desde terremotos, incêndios, todo tipo de ameaça", detalha.

Ceará

Nosso Estado já tem seu representante, um dos funcionários do Museu do Ceará. A instituição, aliás, foi modernizada através de um edital do Ibram. "Pelo edital, conseguimos colocar um sistema de câmeras, que já nos ajudou a resolver problemas internos", revela Cristina Holanda, diretora do Museu do Ceará.

Imagens do Museu do Ceará
Para Holanda, no entanto, nada substitui o olho humano. "Todos os funcionários do museu são vigilantes do nosso patrimônio. Se acontece alguma coisa, quem conhece o acervo e o vê todo dia é que vai notar. A câmera vai nos servir depois, para identificar o autor e fazer um Boletim de Ocorrência", defende. Além do roubo dos óculos de Frei Tito, ocorrido em janeiro de 2008, Cristina afirma que não houve nenhum outro registro dessa natureza no museu.

"Mas a falta de respeito com o patrimônio pode ser vista aqui bem perto: a praça dos Leões, que foi recentemente pintada, está pichada de novo. As pessoas não parecem ter noção da importância desse material", completa.

Entre abril e maio, o Sistema Estadual de Museus, também capitaneado por Cristina Holanda, deve realizar o Fórum de Museus. "Um dos itens será segurança e o nosso representante no curso do Ibram deverá ensinar o que aprendeu", afirma.

Quanto aos riscos, Holanda se mostra tranquila. "Um incêndio no Museu do Ceará é algo muito improvável. Fizemos toda a troca do sistema elétrico em 2008 e a revisão em 2011, além disso, todos os equipamentos da Secult tiveram treinamento de brigada de incêndio". O Museu do Ceará reúne, atualmente, 15 mil peças, desde indumentárias, pinturas, móveis, documentos impressos até objetos recentes, mas de grande valia histórica e simbólica, como o leque com o qual Rachel de Queiroz entrou na Academia Brasileira de Letras.

Reforma

Outro equipamento da cidade importante por resguardar a memória cearense e receber exposições temporárias é o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Ali, além dos vigilantes, 66 câmeras fazem a segurança de entradas, saídas e paredes. A ampla reforma do espaço, no entanto, prevê melhorias no sistema.

"Não achamos que seja necessário o aumento do número de câmeras, mas queremos adquirir aparelhos que filmem em HD e que já estejam ligados a um sistema de alarme, desse modo, de fato, a câmera fará a vigilância daquele conteúdo. Se ele for retirado do local, o alarme dispara", explica Walter Façanha, assessor técnico da diretoria de gestão e planejamento do Dragão. As obras, segundo ele, devem ter início antes de março.

Façanha alerta para outro detalhe do Museu de Arte Contemporânea: "Todas as salas tem um controle de climatização, temperatura e umidade, pra que não sejam danificadas. Afinal, esse é um dos principais riscos que uma obra pode correr".

Sobre isso, José Nascimento, do Ibram, também comenta. Para ele, a maior ameaça ao patrimônio museológico nacional ainda é a falta de investimentos por parte de seus responsáveis, financeiro e em qualificação. "É preciso treinar funcionários, bombeiros, policiais... Porque, em um incêndio, por exemplo, um bombeiro não pode entrar em um museu com água, assim aleatoriamente, porque molhar um quadro a óleo é terrível. Às vezes, é possível restaurar um quadro com uma fagulha de fogo, mas é possível recuperá-lo se tiver sido lavado", alerta.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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