4 de julho de 2013

AFINAL, HÁ UMA NOVA LITERATURA RUSSA? - Daniela Mountian

Prosseguindo nossas andanças pela literatura russa contemporânea, conversamos com Elena Vássina, crítica e professora de literatura russa da USP.


Elena Vássina tem um interessante percurso. É formada em letras pela MGU, Universidade Estatal de Moscou, e fez seu doutorado sobre o teatro brasileiro dos anos 70 (o que talvez até aqui seja raro) no prestigiado Instituto Estatal de Pesquisa da Arte (Rússia). Foi como sua relação com o Brasil começou a se delinear. Sobre o momento atual da literatura russa, Elena destaca, além da forte diferença entre a nova geração e a anterior, a presença flagrante de mulheres, como Tatiana Tolstaia, Marina Vichnevietskaia e Ludmila Ulitskaia, e o interesse por temas documentais, sendo que uma das vertentes disso é a retomada da literatura de guerra, seguindo a tradição de autores como Puchkin, Liermontov e Tolstoi. Na entrevista, Vássina fala também da relação intensa dos russos com seus poetas e escritores, no lugar da psicanálise, e da repercussão da cultura brasileira na Rússia – repercussão que, conforme ela, decaiu muito nos últimos 20 anos e precisa de investimento por parte das instituições brasileiras.

Tanto Elena Vássina como Igor Sukhikh, nosso último entrevistado, percebem a literatura russa atual num período de mudanças, seja pela “crise da literatura de ficção”, como nota Vássina, seja por uma espécie de “transição”, como diz Sukhikh. Ambos também vislumbram as novas fronteiras das letras russas, que, ao contrário de seu território, foram ampliadas – a literatura russa agora é uma, mas produzida em várias partes do mundo. Premiados ou na contracultura, os escritores russos, como sempre o fizeram, criam e pensam o seu mundo, que, se já acomoda uma nova geração, continua também a pulsar nas palavras de Gogol, Dostoievski, Tchekhov, Akhmatova, Brodski...

Em pouco mais de 70 anos, a Rússia, antes palco de seus caprichosos czares e czarinas, passou por duas revoluções, guerras e mudou de identidade e de fronteiras. É uma história de muitas veredas e que certamente, como sublinhou Sukhikh, ainda será retratada e repensada por muitas gerações. Entre cúpulas e repartições, entre estandartes e outdoors, a Rússia foi e continua sendo uma das grandes musas de seus escritores, a começar por Puchkin e sua Petersburgo. Não há ponte nessa cidade sem os contornos de um artista, com uma pena na mão ou ouvindo seu iPod, debruçado em parapeitos seculares, com olhos por vezes machucados e embriagados, saudosos de um tempo incerto, mas sempre na busca da expressão poética desta realidade tão inverossímil que é a nossa, como diria Dostoievski.

Nossa entrevistada: Elena Vássina, professora de letras russas da Universidade de São Paulo, é formada na Faculdade de Letras da Universidade Estatal de Moscou Lomonossov (MGU), onde também desenvolveu seu mestrado em Literatura Comparada sobre Antero de Quental. No Instituto Estatal de Pesquisa da Arte (Rússia), concluiu seu doutorado e pós-doutorado. Algumas publicações em português: “Os últimos dias de Tolstoi” (org., Penguin - Companhia das Letras, 2011), “O cadáver vivo, de L. Tolstoi” (tradução, com G. Schneider, e prefácio, Peixoto Neto, 2007), “Caderno de Literatura e Cultura Russa – Dossiê Dostoievski” (org., com A. Cavaliere, B. Gomide e N. Silva, Ateliê Editorial, 2007), “Tipologia do simbolismo nas culturas russa e ocidental” (org., com A. Cavaliere e N. Silva, Humanitas, 2005).

DM: Eu queria começar a entrevista conhecendo melhor sua trajetória. Você fez um caminho muitíssimo interessante, é formada em letras pela MGU, a Universidade Estatal de Moscou, e depois optou pelo teatro brasileiro como tema de doutorado. Como o Brasil chegou até você?

EV: Ah, Daniela, acho que essa pergunta valia todo o tempo da entrevista... Aqui no Brasil existe um ditado de que gosto muito: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Eu nunca pensei em estudar o português, a literatura portuguesa, a brasileira, mas fui obrigada pelo vice-diretor da Faculdade de Letras em Moscou. Sou formada em literatura estrangeira, literatura comparada e teoria literária. Então, sempre pesquisei outras literaturas, mas, claro, na comparação com a russa. Depois de defender meu mestrado na MGU, eu tive a possibilidade, também completamente por acaso, de participar de um concurso de doutoramento no Instituto Estatal de Pesquisa da Arte, um instituto de altos estudos em artes e letras, com cursos só a partir do doutorado. Foi muito difícil, mas eu passei nesse concurso e me encontrei num lugar acadêmico absolutamente maravilhoso. Isso foi ainda no período soviético, mas era como uma ilha de liberdade, um lugar de estudos muito interessantes. Na minha tese de doutorado, uma pesquisa multidisciplinar, eu analisei o teatro brasileiro da época da ditatura, mas eu não tive nenhuma possibilidade de viajar ao Brasil nesse momento...

DM: Foi difícil encontrar material?

EV: Sim, foi muito difícil, pois tudo o que dizia respeito ao Brasil esteve no chamado “zakryti dostup” [acesso fechado], numa seção da Biblioteca de Literaturas Estrangeiras (a famosa “Inostranka”), onde você deveria pedir licença para, por exemplo, folhear a revista “Veja”. O Brasil estava na época da ditatura, e a União Soviética não admitia isso, embora as relações diplomáticas continuassem... Então todas as menções à ditadura brasileira foram censuradas na imprensa russa. Foi muito difícil, mas eu conheci alguns escritores, diretores e críticos de teatro muito importantes, que me mandavam livros.

DM: E você os conheceu como? Como esse contato se estabeleceu?

EV: Através de correspondência.

DM: Por carta mesmo?

EV: Sim, por carta. A primeira carta... Eu li os livros do Fernando Peixoto sobre os anos 60, sobre a vida artística e teatral dessa época. Escrevi uma carta a ele, ele me respondeu, e assim tudo começou... minhas correspondências, meus contatos com o Brasil.

DM: Elena, esta entrevista está centrada na literatura russa contemporânea, então vou fazer perguntas um pouco genéricas. A Rússia, a Federação Russa, completa 20 anos em 2011. Apesar de ainda recente, é possível definir este panorama literário, perceber as tendências mais marcantes, os temas mais procurados, uma estética comum? Afinal, há uma nova literatura russa?

EV: Com certeza, há uma nova literatura russa. Durante os 70 anos do poder soviético, a literatura russa existiu sob uma vigília muito dura do Estado, sempre sob a vigilância da censura. Então a diferença principal agora é a liberdade de expressão. Também, desde a Revolução de 1917, a literatura russa, a cultura russa, foi dividida em duas partes: a literatura russa que ficou na União Soviética, e uma parcela dessa literatura foi proibida pela censura, e à que se formou, continuou, no estrangeiro, a assim chamada literatura de “emigratsia”, a literatura da emigração. A primeira coisa que aconteceu foi que o texto da literatura russa, antes dividido em duas partes, foi unificado, se uniu. Agora nós temos uma única literatura russa, qualquer que seja o lugar onde ela é criada, nos EUA, na Alemanha... E muitos escritores contemporâneos russos moram fora da Rússia, mas pertencem à literatura da língua russa, da expressão russa. E nasce uma jovem geração de escritores, que, a meu ver, é bem diferente da anterior. Dovlatov (1941-1990), por exemplo, pertence a uma geração que se formou na União Soviética, ele sabia de todas as regras do jogo da censura... Vladimir Sorokin (1955), outro escritor muito conhecido, é também formado na União Soviética. Já depois do fim da União Soviética, aparece uma geração de escritores e poetas com uma nova mentalidade e uma linguagem ousada. Eles agora se sentem completamente livres – podem escrever o que quiserem e como quiserem. As características marcantes dessa literatura talvez sejam as seguintes. Primeiro, há a predominância de mulheres. Nunca houve tantas escritoras como agora. Algumas são excelentes, como, por exemplo, Tatiana Tolstaia (1951), já conhecida aqui, Marina Vichnevietskaia (1955) e Ludmila Ulitskaia (1943). O romance “Daniel Stein, o Intérprete”, da Ulitskaia, é excelente. Ela ganhou muitos prêmios. Talvez outra corrente importantíssima seja definida pelo interesse na literatura documental, a literatura baseada em fatos reais. Vários livros dessa corrente ganharam prêmios importantes e se tornaram best-sellers da literatura russa. Por exemplo, alguns anos atrás, o fantástico livro “Boris Pasternak”, de Dmitri Bykov (1967), foi muito premiado. Dmitri Bykov é um jovem escritor que pertence a essa nova literatura. Há também um livro que eu acabei de comprar na Rússia, ganhou o prêmio Booker nacional, se não me engano, de Pavel Bassinski (1961): “Liev Tolstoi, biegtsvo iz raia” [Liev Tolstoi, a fuga do paraíso]. Também documental, baseado apenas em cartas, diários, memórias... Esse livro está agora liderando todas as listas dos mais lidos na Rússia.

DM: Então, ao que parece, os russos estão discutindo muito a própria história...

EV: Sim, sim, você tem toda a razão, mas a literatura documental também sempre aparece e ganha importância especial em momentos de crise da literatura de ficção.

DM: A literatura russa está em crise?

EV: Em certa crise, com certeza, mas a crise faz muito bem para nós, seres humanos, e faz muito bem para a arte, porque a crise provoca a evolução, provoca mudanças, nos obriga a mudar e obriga a literatura a mudar. DM: E ela está mudando? EV: Está mudando, com certeza... surgem autores bem jovens e interessantes. Outra característica marcante da literatura russa atual, desses últimos 20 anos, é a presença da assim chamada literatura de guerra, “voiennaia literatura”. Sabemos que as duas grandes guerras geraram obras-primas, não apenas na literatura russa, mas na literatura universal. Hemingway ou Remarque, por exemplo. E na Rússia ressurge essa literatura de guerra de forma bastante marcante. O último romance que li, agora em janeiro em Moscou, “Chalinski reid” (2010), de Guerman Sadulaev (1973), uma obra também baseada em fatos reais, conta a experiência do autor na Guerra da Tchetchênia. O tema da Guerra de Tchetchênia, da Guerra do Cáucaso, está presente em muitos clássicos da literatura russa, como em Puchkin, Liermontov e Tolstoi. Nesta nova literatura de guerra, cria-se um diálogo, uma intertextualidade, muito interessante com a tradição russa. Quando você me pergunta sobre a literatura russa atual, o que é também muito característico é o imenso número de prêmios literários. Eu fiz uma lista de todos os prêmios, e é impressionante... É “Buker” [Russian Booker], “Pushkinskaia Priemia” [Prêmio Púchkin], “Literaturnaia Priemia Jukosvkogo” [Prêmio de Literatura Jukovski], “Aleksandr Soljenitsin”...

DM: Esses prêmios não existiam antes?

EV: Não, são todos novos... prêmio “Debiut”... Então, o que leva a literatura russa para a frente é também essa possibilidade de ganhar dinheiro, um bom dinheiro, e ficar somente trabalhando na sua escrita.

DM: E os poetas russos, como andam?

EV: Os poetas andam muito bem... Assim como os brasileiros não conseguem viver sem a música, sem a canção, nós, russos, não conseguimos viver sem a poesia. Começamos a aprender poesia desde que começamos a falar, com dois, três anos de idade, e já sabemos de cor Puchkin, Tiutchev, Akhmatova, Tsvetaieva... Muito ainda deveria ser feito para que a grande poesia russa do século XX chegasse até o Brasil. Eu sempre falo de Iossif (Josef) Brodski, o último Prêmio Nobel da literatura russa. Ele quase não foi traduzido aqui − há apenas um pequeno livro que saiu pela tradução de Nelson Ascher e Boris Schnaiderman. No ano passado, nós festejamos 70 anos do nascimento de Brodski. Brodski, depois de Puchkin, a meu ver, é o maior poeta da literatura russa.

DM: E entre os jovens poetas, há algum nome que interesse?

EV: Eu gosto muito de Timur Kibirov (1955), mas de fato ele não é tão jovem. Maria Stepanova (1972), por exemplo, é uma das jovens mais talentosas e premiadas atualmente.

DM: Você afirmou mais de uma vez que a repercussão de Freud, e portanto da psicanálise, na Rússia, ou na União Soviética, foi bastante tímida. Quer dizer, os russos não deitavam no divã... Sabemos que as ideias de Freud, além da forte influência nas artes, ajudaram a criar a noção de “sujeito” no Ocidente. Na Rússia, os parâmetros são outros. Poderia falar um pouco disso? Houve mudanças com o fim da União Soviética, os russos de hoje fazem terapia? Eles começam a se ver e a se representar de outra maneira?

EV: Essa pergunta é muito interessante, Daniela. Freud foi proibido depois da Revolução... na verdade, no final dos anos 20. Na época soviética, para ler Freud, eu tinha de descobrir suas edições nas bibliotecas antigas de meus parentes, dos meus professores... Você não podia, por exemplo, andar de metrô lendo Freud, porque qualquer um poderia delatá-lo, e você poderia terminar sua vida nos porões do NKVD... Foi algo muito sério. Mas, com certeza, tudo o que foi proibido pelo poder soviético, pela censura soviética, foi muito lido, muitíssimo. O assim chamado “samizdat” [edição própria]. Os livros “samizdat” − os livros que foram editados por nós mesmos... Foi a literatura da resistência. Sartre, por exemplo, ele foi proibido depois de 68, mas a gente continuou a ler Sartre nas edições que vinham do estrangeiro, editadas nos EUA, na Alemanha... A mesma coisa com Freud. Mas, por exemplo, Vassili Rosanov (1856-1919), um grande escritor e filósofo russo, desempenhou um papel mais importante para a formação do “sujeito” da literatura russa do que Freud. Nós não tivemos psicólogos, mas tivemos nossos escritores: eles foram os nossos psicólogos. A gente faz tratamento no divã, mas é de graça, lendo Dostoievski, Tolstoi, Kharms, Grossman, Pasternak...

DM: Você comentou agora pouco que “estar deprimido” é uma ideia que um russo não entende...

EV: Eu sempre conto esta história... Nós tivemos um grande poeta e escritor, Dmitri Merejkovski (1866-1941), já traduzido para o português. Quando Dmitri Merejkovski tinha uns 14 anos, ele começou a escrever, poesias e algumas crônicas... E seu pai o levou a uma entrevista com Dostoievski, para que o “grande escritor russo” o “abençoasse” nesse caminho literário. Dostoievski leu as primeiras experiências literárias de Merejkovski e disse: “Muito bom, filho, muito bom, você tem talento, mas tem que sofrer...”. A relação russa com o sofrimento... O sofrimento aprofunda a criatividade, aprofunda você, forma você. Você pode imaginar o que seria de Dostoievski se ele não tivesse passado pela prisão e pela possibilidade da execução da morte?... Ele conta que somente dois minutos o separaram dela... [Em 1849, Dostoievski, então com 28 anos, foi sentenciado à morte acusado de conspiração de ideias, junto com outros membros do círculo de M. Petrachevski. Contudo, minutos antes da execução, a sentença foi mudada e, em vez disso, ele foi mandado à Sibéria, sendo condenado a quatro anos de trabalhos forçados. Essa experiência marcou o escritor profundamente e aparece em muitos de seus romances, como nos relatos do Príncipe Michkin, em “O Idiota”.] Imagine o grau de sofrimento? Será que isso levou Dostoievski à depressão? Não, ao contrário, isso fez de Dostoievski este grande escritor. A mesma coisa com Tolstoi ou Puchkin.

DM: Em 2008, você criou um ciclo de palestras na Biblioteca Mário de Andrade, aqui em São Paulo, chamado “Literatura russa pelo prisma do amor”. A questão do amor foi analisada em autores como Dostoievski, Tolstoi, Tchekhov. É possível pensar um pouco a literatura russa contemporânea sob esse aspecto, ou alguns autores? Como anda o amor russo contemporâneo?

EV: Já mencionei aqui o romance de Guerman Sadulaev. Neste romance, “Chalinski reid”, no contexto da Guerra da Tchetchênia, o tema do amor sublime aparece de repente numa situação muito sangrenta, muito carnal, e acaba sendo violado pela própria violência da guerra. Já em Ulitskaia, no romance-colagem “Daniel Stein”, temos um personagem histórico, Oswald Rufajzen, um judeu, que, durante a Segunda Guerra Mundial, foi salvo pelos católicos. Depois, tendo se tornado um padre católico, foi para Israel pregar amor a todos, sem distinção de povo ou religião. Aqui surge o tema do amor como uma salvação... Vimos, então, a questão do amor desenvolvida por dois pontos de vista completamente diferentes, e por dois escritores russos contemporâneos.

DM: Soubemos aqui com muita tristeza do atentado que aconteceu agora em janeiro no Aeroporto Internacional de Moscou (Domodiedevo). Uma das perdas foi a jovem poeta e dramaturga ucraniana Anna Iablonskaia, que nasceu em 1981. Você tem alguma informação sobre o trabalho dela? Dizem que ela era uma grande promessa...

EV: Sim, sim. Inclusive, foram meus amigos, ex-colegas, que a chamaram para receber o prêmio da revista “Iskustvo kino” [A arte do cinema] pela peça-roteiro “Os pagãos”. Ela morreu quando foi receber esse prêmio... Anna veio de Odessa – era ucraniana, mas escrevia em russo, jovem, bonita... − especialmente para a premiação. Ao sair do avião, ela ligou do celular avisando que havia chegado e que logo estaria na revista. E depois sumiu. Ficaram esperando e esperando, ninguém sabia o que tinha acontecido. Diziam ao público: “Vamos esperar mais um pouco, Anna já ligou, ela deve estar chegando...”. Mas ela não aparecia, todos pensavam que era pelo tráfego de Moscou, que é horrível. Começaram a entregar os outros prêmios, segundo lugar, terceiro... E de repente o marido, já o viúvo de Anna, ligou e disse que ele tinha recebido um telefonema de um oficial do FSB. Esse oficial, com o celular de Anna, que estava tocando no bolso dela, contou que sua mulher havia falecido. Ela tinha uma filha.

DM: E sobre o trabalho dela?

EV: Eu a conheço como autora dramática... Inclusive, ela tem peças encenadas no Royal Court Theatre, em Londres... Ela é bastante popular, uma jovem muito popular em Moscou e fora de Moscou, na Alemanha... São dois novos grupos de teatro, o teatro “Dok” e o teatro “Praktika”, que ficaram ligados à Anna Iablonskaia.

DM: Você mora no Brasil há vários anos, mas viaja constantemente à Rússia. Como enxerga a recepção da cultura brasileira pelos russos? Há alguma repercussão?

EV: Eu descobri agora, por exemplo, que a música brasileira está muito presente em Moscou, há cantores de bossa nova, há cantores brasileiros... A bossa nova é uma referência musical muito importante. Mas eu acho que ultimamente a repercussão diminuiu muitíssimo, em comparação com uns 15, 20 anos atrás... 

DM: Por quê? 

EV: Porque o Brasil infelizmente não está investindo, não há investimento na divulgação da cultura e da literatura brasileira... Na época da União Soviética, muitos autores brasileiros foram traduzidos, e foram traduzidos muito bem, com tiragens enormes, de 100 mil...

DM: Quais escritores?

EV: Ah, vários, clássicos e contemporâneos, mas agora tudo parou. São vários, vários, havia estantes e estantes de obras... Clarice Lispector, claro, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Cecília Meireles, Rubem Fonseca...

DM: Porque eu estive há pouco na Rússia e não encontrei nenhum livro...

EV: Nenhum, nada... você não encontra nas livrarias, somente Paulo Coelho...

DM: E Jorge Amado... 

EV: Sim, você não os encontra, mas encontra nas bibliotecas... Machado de Assis, Graciliano Ramos, muitos... Guimarães Rosa...

DM: Guimarães Rosa foi traduzido para o russo?

EV: Foi traduzido, e muito bem. Sabe, o Guimarães Rosa, se eu não me engano, foi traduzido pela Tynianova, Inna Tynianova, que é filha de Iuri Tynianov, um grande formalista russo, estudado aqui na faculdade.

DM: “Bolchoe spassibo”, Elena. [Muito obrigada, Elena]

EV: “Ne za tchto”, Daniela. [Por nada, Daniela] 

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Extraído do sítio Diário da Rússia

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