4 de dezembro de 2012

INFARTO FULMINANTE: CAUSAS E SINTOMAS - Dr. Pedro Pinheiro

O infarto fulminante é uma das principais causas de morte súbita. Neste texto vamos explicar por que algumas pessoas têm infarto cardíaco e conseguem chegar a tempo ao hospital, enquanto outras apresentam um quadro de infarto fulminante com morte súbita. 

Infarto fulminante

Chamaremos de infarto fulminante aquele que causa o óbito do paciente antes que haja tempo de um atendimento médico; ou seja, o paciente morre antes de chegar ao hospital. Cerca de 15% dos infartos se manifestam com morte súbita, não dando chance ao paciente. Felizmente, os outros 85% conseguem chegar a tempo ao hospital.

Vamos começar pelo básico. Qualquer célula do nosso corpo precisa de sangue para viver; quando uma artéria sofre uma súbita obstrução do fluxo sanguíneo, os tecidos nutridos pela mesma sofrem isquemia e necrose. A esta morte de um tecido damos o nome de infarto. Um infarto pode ocorrer no cérebro, rim, pulmão ou qualquer outro órgão do corpo. Infarto do coração, ou infarto do miocárdio, portanto, significa morte das células musculares do coração (chamadas de miocárdio), por falta de suprimento sanguíneo. 

As artérias que levam sangue aos tecidos do coração se chamam artérias coronárias. Nosso coração possui duas grandes artérias responsáveis pelo suprimento sanguíneo cardíaco: artéria coronária esquerda, que nutre o lado esquerdo do coração, e artéria coronária direita, que nutre o lado direito do coração.

Para que todo o tecido cardíaco receba sangue, essas artérias coronárias precisam se ramificar, formando uma grande teia de vasos sanguíneos ao redor do coração.

Quanto maior for a área infartada, ou seja, que sofreu necrose por falta de nutrição sanguínea, maior a gravidade do infarto. Reparem na ilustração abaixo, o exemplo de 3 localizações diferentes para uma obstrução das artérias coronárias e suas respectivas consequências 

Diferentes possibilidades de infarto do miocárdio. Sombra avermelhada indica área infartada. 

Reparem que quanto mais próximo do nascimento das artérias coronárias ocorre a obstrução, maior é a área afetada. Não é difícil entender por que a obstrução na terceira figura é muito mais grave que na primeira. Todo aquele músculo necrosado torna-se inútil e incapaz de contrair para bombear o sangue. Se subitamente perdemos a nossa bomba de sangue, entramos em choque circulatório (leia: CHOQUE CIRCULATÓRIO: O que é? Quais as suas causas?). 

Além do choque circulatório, chamado de choque cardiogênico por ter origem no coração, existe outra importante causa para um óbito rápido após um infarto: arritmias cardíacas. O tecido cardíaco que sofre infarto já não consegue mais transmitir os impulsos elétricos, favorecendo o aparecimento de arritmias cardíacas graves. São as arritmias malignas as principais responsáveis pela morte súbita de origem cardíaca, e mais de 70% destas ocorrem devido a doença isquêmica do músculo cardíaco. 

Na verdade, um extenso infarto é um grande risco, mas não é a única causa para uma parada cardíaca. Vários pequenos infartos ou uma isquemia, mesmo que não muito extensa, em uma área nobre da geração e transmissão dos impulsos elétricos do coração também podem desencadear arritmias malignas, levando a parada cardíaca. Portanto, dois fatores são importantes no prognóstico de um infarto: tamanho e localização da área afetada.

Sugerimos também a leitura do texto: INFARTO DO MIOCÁRDIO: Causas e prevenção

O que caracteriza uma arritmia maligna? 

Chamamos de arritmia maligna aquela que não produz os impulsos elétricos necessários para o correto batimento cardíaco. O coração funciona de modo muito sincronizado. Se os impulsos elétricos não surgirem no momento certo e não forem transmitidos da forma devida, o coração não conseguirá se contrair e bombear o sangue adequadamente.

A principal arritmia responsável pela morte de origem cardíaca é a fibrilação ventricular.

Eletrocardiograma mostrando o momento exato do início de uma fibrilação ventricular

Durante uma fibrilação ventricular, os estímulos elétricos se tornam caóticos, sendo incapazes de gerar uma contração do músculo cardíaco de forma sincronizada; o coração simplesmente começa a tremer e não já não bombeia mais nenhum sengue. Um coração em fibrilação ventricular é basicamente um coração parado sujeito a uma tempestade de impulsos elétricos inúteis.

Depois de alguns minutos em fibrilação ventricular, os tecidos do resto do corpo começam a morrer, incluindo o cérebro. Uma pessoa em fibrilação ventricular está tecnicamente morta e precisa ser ressuscitada imediatamente, antes que o cérebro morra por falta de circulação sanguínea. Se não revertida prontamente com um desfibrilador (choque elétrico), o paciente vai ao óbito em questão de minutos.

Sintomas do infarto fulminante 

O paciente normalmente inicia um quadro de cansaço, sudorese e dor no peito, exatamente como em qualquer infarto. Se a área cardíaca afetada for muito grande, o paciente pode entrar em choque cardiogênico que se caracteriza por hipotensão e intensa falta de ar, devido a edema pulmonar. Se o paciente entra em arritmia maligna, ele perde a consciência e para de respirar. O quadro é dramático pois, como já dito, uma fibrilação ventricular é um tipo de parada cardíaca.

É importante frisar que a arritmia pode surgir a qualquer momento; em alguns pacientes ela surge logo após o início dos sintomas; em outros, pode aparecer somente após algumas horas do início do infarto, muitas vezes com o paciente já dentro do hospital, o que aumenta muito as chances de sobreviver.

Todo quadro de dor no peito deve ser avaliado por um médico. É impossível, sem avaliação médica, prever qual infarto evoluirá bem ou mal, apenas baseado nos primeiros sintomas.

Há como prever uma infarto cardíaco fulminante antes do infarto surgir?

Nem sempre é possível prever com grande antecedência quem está sob risco de infarto fulminante. Os principais fatores de risco são os mesmos para qualquer infarto:

- Idade acima dos 50 anos
- Tabagismo (leia: MALEFÍCIOS DO CIGARRO)
- Consumo de cocaína (leia: COCAÍNA - CRACK: Efeitos e complicações)
- Colesterol elevado (leia: COLESTEROL BOM (HDL) E COLESTEROL RUIM (LDL))
- Alcoolismo (leia: EFEITOS DO ÁLCOOL E ALCOOLISMO)

Quanto mais fatores de risco um pessoa tiver, maior a chance de ter doença nas suas coronárias, aumentando o risco de um infarto mais extenso. Pacientes com muitos fatores de risco, principalmente se forem homens acima dos 50 anos, devem ser avaliados por um cardiologista.

Quando a obstrução das coronárias vai se dando de modo lento, o paciente começa a sentir os sintomas de uma progressiva diminuição do aporte de sangue ao coração. É a chamada angina, uma dor no peito que surge ao esforço e desaparece em repouso. Os pacientes com angina normalmente procuram atendimento médico antes que haja obstrução completa das coronárias, conseguindo através do cateterismo cardíaco identificar e corrigir as obstruções a tempo. Para saber mais sobre angina, sugiro a leitura do texto SINTOMAS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ANGINA.

Através do cateterismo, chamado de angiografia coronariana, é possível mapear todos os vasos do coração. Se o médico encontra, por exemplo, uma artéria com 80% ou 90% de obstrução, já sabemos de antemão que este paciente está a beira de um infarto. Esta obstrução precisa ser corrida através de uma angioplastia Alguns pacientes apresentam lesões tão graves nas coronárias que precisam de uma cirurgia, a famosa ponte de safena, para substituir as artérias doentes. 

Pacientes que já apresentaram infartos prévios, possuindo várias áreas de tecido cardíaco necrosado, apresentam grande risco para arritmias malignas. Já existem exames capazes de identificá-los. Nestes casos, o cardiologista pode indicar a colocação de um desfibrilador implantável, que é um pequeno aparelho, semelhante ao marca-passo, capaz de reconhecer uma arritmia cardíaca, liberando uma descarga elétrica imediatamente após o início da mesma.

Porém, nem todos os pacientes apresentam algum tipo de sintoma antes do infarto. Por isso, repito, uma avaliação eventual de um cardiologista é sempre necessária em pessoas com fatores de risco.

Qual o tratamento para um infarto fulminante?

Se o paciente sofre uma isquemia cardíaca e evolui com uma arritmia maligna fora de um ambiente hospitalar, as chances de sobreviver são muito pequenas. A fibrilação ventricular precisa ser revertida com um desfibrilador em questão de minutos. Depois de 10 minutos de fibrilação, a maioria dos pacientes já não conseguirão mais ser salvos, mesmo que o choque elétrico do desfibrilador venha a ser dado. Além disso, quanto mais tempo o paciente permanece em parada cardíaca sem atendimento médico, maior o risco de lesões irreversíveis do cérebro.

É devido a está urgência no tratamento das arritmias malignas que alguns locais públicos já dispõem de desfibriladores automáticos. Em geral estas máquinas são de manuseio simples e podem ser operadas por pessoas leigas; basta conectar as pás ao peito do paciente conforme estará indicado, ligar a máquina e se afastar. O resto do trabalho ela fará sozinha. Locais públicos como aeroportos, estádios, academias e outros já costumam ter um desfibrilador portátil à disposição. 

Se o paciente já foi previamente avaliado por um cardiologista e tiver um desfibrilador implantável, provavelmente este salvará sua vida, pois o choque virá imediatamente após o início da arritmia.

É importante salientar que a reversão da arritmia é apenas o primeiro passo no tratamento do infarto grave. Este paciente não deixa de ter um infarto só porque a arritmia foi tratada; ele precisa ser internado e pode ainda vir a falecer por várias outras complicações do infarto.

Extraído do sítio MD Saúde

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