9 de dezembro de 2012

ESPECIALISTA FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA SEMANA DE ARTE MODERNA NO CENÁRIO CULTURAL BRASILEIRO - Sara Campos

Monumento às Bandeiras em São Paulo, criado por Victor Brecheret, um dos principais artistas da Semana de 22 (Domínio Público / Victor Brecheret)

Passados 90 anos da Semana de Arte Moderna, o impacto dessa manifestação cultural foi um divisor de águas no cenário artístico brasileiro. Em entrevista ao Epoch Times, a professora doutora do Departamento de História da Arte da Escola de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Ana Maria Hoffmann, fala sobre o desenvolvimento da vanguarda modernista no Brasil.

Epoch Times: Qual era o contexto de produção cultural no Brasil antes do início da Semana de Arte Moderna?

Ana Maria Hoffmann: O contexto artístico brasileiro naquele momento estava muito centrado na Escola Nacional de Bellas Artes e nos salões organizados por essa instituição. São Paulo tinha um ambiente artístico bastante acanhado, onde o ensino era concentrado no Liceu de Artes e Ofícios. As exposições eram organizadas de forma privada. O ambiente cultural em SP era um ambiente muito pequeno. No Rio de Janeiro, desde a segunda metade o século 19, a Escola Nacional de Belas Artes cumpria esse papel de promoção cultural.

Epoch Times: Houve alguma motivação comum que mobilizou os artistas envolvidos neste período de transição?

Ana Maria Hoffmann: A principal motivação foi um ato conjunto de solidariedade com a pintora Anita Malfatti, que teve seu trabalho mal recebido em sua exposição em 1917, após uma viagem de estudos a Nova York. Ela foi duramente criticada por Monteiro Lobato, que criticou o estilo Modernista. O impacto foi grande e alguns quadros que tinham sido comprados foram devolvidos. Durante reuniões dos artistas na casa de Mário de Andrade, no começo dos anos 1920, surgia uma ideia de se organizar uma Semana de Arte Moderna dentro dos salões de arte brasileiros.

Epoch Times: Quais elementos da Semana da Arte Moderna contribuíram para que o evento se transformasse em uma referência cultural?

Ana Maria Hoffmann: O principal fato que fez dela uma referência foi a polêmica nos jornais sobre a nova estética modernista. Como fenômeno, é bastante importante saber que era um festival de artes, patrocinado por Paulo Prado, que envolvia leitura de poemas, artes e concertos musicais. Foram três noites em dias alternados dedicados às artes. O fato de ter sido realizada no Teatro Municipal de São Paulo contribuiu para a visibilidade do evento na época e para a polêmica da crítica de arte nos jornais diários. Todos os dias eram publicadas críticas positivas e negativas das obras que eram apresentadas na Semana de Arte Moderna. Desde o momento da sua concepção, esse evento foi projetado para tornar-se histórico.

Epoch Times: Música, arte ou literatura? Qual vertente cultural ficou mais evidenciada na Semana de 22?

Ana Maria Hoffmann: Com certeza os concertos da pianista Guiomar Novaes eram bastante disputados. Porém, o mais importante foi a organização de um festival aonde essas três artes eram apresentadas de uma forma integrada. Foi uma exposição de artes plásticas no Teatro Municipal, ou seja, a casa da música recebeu os artistas modernistas. A presença das obras de Anita Malfatti e Victor Brecheret foi muito importante e o debate da crítica de arte também foi bastante valioso.

Epoch Times: Entre os artistas envolvidos no Modernismo, algum deles poderia ser considerado mais representativo?

Ana Maria Hoffmann: Na visão do Mário de Andrade é o Victor Brecheret. Em seu relato no texto O Movimento Modernista, em 1942, ele fala de sua visita ao atelier do Victor Brecheret nas obras do Palácio das Indústrias (atual Museu Catavento). Aquele Palácio foi construído para comemorar o centenário da Independência. Victor Brecheret fez as esculturas decorativas do prédio e ao ver suas obras, Mário de Andrade teve uma epifania sobre o Modernismo. Ele viu a escultura Cabeça de Cristo e teve um choque ao entrar no atelier. O escritor era o artista que mais se identificava com a estética modernista.

Epoch Times: De que forma o Modernismo brasileiro impactou o cenário artístico latino-americano? Esse movimento impulsionou outras mudanças nos países vizinhos?

Ana Maria Hoffmann: A Semana de 22 representou um processo de organização e celebração dos modernistas brasileiros que não causou impacto no cenário latino-americano. A divulgação da arte brasileira foi mais forte em Paris, com a presença de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Vicente do Rego Monteiro. Essa ideia de integração cultural latino-americana aconteceu no pós-guerra. No período modernista, o Brasil seguia referências europeias nas artes.

Extraído do sítio The Epoch Times

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