Pintura de Neyde-Bohon |
Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, corno esta tarde estão tocando,
Os sinos do companário.
Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.
JUAN RAMÓN JIMÉNEZ: Nascido em Moguer, no sul da Andaluzia, Juan Ramón Jiménez (1881-1958) é uma das principais vozes da lírica espanhola. Sua terra natal o inspirou a escrever Platero e Eu (1914), uma de suas obras mais significativas, ao lado de Diário de um Poeta Recém-casado (1916) e Eternidades (1918). Em 1936, por ocasião da Guerra Civil Espanhola, exilou-se em Nova York e não mais retornou à Espanha. Treze anos mais tarde, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Um ano e meio depois de ser laureado com o prêmio, faleceu em Porto Rico.
Extraído do sítio As Tormentas
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