Pequena cidade da Turíngia, no leste da Alemanha, abriga o museu Casa de Bach, que foi aberto em 1907 e até hoje atrai visitantes interessados em saber mais sobre o famoso compositor.
"Um dos primeiros itens que quero mostrar é a porta da escola Thomasschule, em Leipzig, onde Bach viveu por 27 anos como Kantor (chefe do coro)", explica o guia turístico Uwe Fischer. "Para muitos visitantes é muito importante passar por onde Bach um dia já caminhou."
Os turistas ouvem as palavras do guia com atenção. Elas levam a uma viagem pelo mundo de Bach. O famoso compositor viveu seus primeiros dez anos na cidade de Eisenach, na Turíngia. Trata-se de uma cidade importante para a Reforma, pois foi no Castelo de Wartburg, localizado em Eisenach, que Lutero traduziu o Novo Testamento do latim para o alemão.
Mas, ao contrário do que acreditam muitos visitantes, Bach não nasceu no prédio que hoje abriga o museu Casa de Bach, como diz o diretor do museu, Jörg Hansen. "Cerca de 20 anos após a inauguração foi descoberto, através de registros fiscais, que a casa em que Bach nasceu infelizmente já havia sido demolida. Ela ficava a 100 metros do museu."
Inusitados instrumentos musicais
Uwe Fischer é responsável pelos instrumentos musicais |
Mesmo que Bach nunca tenha vivido na mansão do século 15, isso não reduz o valor do acervo que lá se encontra. Da coleção fazem parte objetos, manuscritos, partituras e, é claro, instrumentos musicais, desde uma tromba marina até uma harmônica de vidro. As reproduções da sala de estudos de Bach, seu quarto de dormir, sua sala de visitas e sua sala de instrumentos musicais são um mergulho na música do século 17.
Em um órgão, um cravo, uma espineta e um clavicórdio, o responsável pelos instrumentos musicais Uwe Fischer oferece mostras das obras de Bach. O clavicórdio era o instrumento favorito do músico, que o considerava a melhor ferramenta para o estudo e também ideal para se tocar em ambientes privados. "Não tinha um som muito alto e assim não perturbava os vizinhos." Como pesava apenas 15 quilos, era de fácil transporte, perfeito para as viagens de Bach. "Era o teclado do período barroco", resume Fischer.
Uma das últimas aquisições e motivo de orgulho da Casa de Bach é o órgão barroco da Turíngia, do ano de 1650. O diretor do museu descobriu a peça por acaso, quando navegava na internet, numa casa de leilões da Baviera. Até então, o museu não tinha nenhum órgão da Turíngia na coleção. "A grande pergunta é se Bach conhecia essa peça", declarou Hansen. "Gostamos de pensar que sim, pois é sem dúvida um órgão oriundo do círculo próximo a Johann Sebastian Bach, e é uma ótima sensação ter um órgão como esse no museu."
Reconhecimento em vida
O diretor do museu, Jörg Hansen, e o órgão barroco de 1650 |
Ainda em vida Johann Sebastian Bach gozava de excelente reputação. Ele trabalhou como organista da igreja, como músico da corte e finalmente como chefe de coro em Leipzig. O então reitor da escola de São Tomás, Johann Matthias Gesner, declarou na época: "Se você pudesse ver Bach, como ele toca o piano com ambas as mãos e usando todos os dedos, ou o instrumento dos instrumentos, cujos inúmeros tubos ganham vida por meio dos foles, como ele voa aqui com ambas as mãos e ali com os pés ágeis sobre teclas e pedais, como o ritmo ocupa todos os membros do seu corpo!".
Bach deixou para a posteridade uma obra de dimensões imensas: suas peças para coral ou para órgão e especialmente A paixão segundo São Mateus desfrutam até hoje de grande popularidade em todo o mundo. O museu ganhou recentemente um anexo, para melhor apresentar a obra de Bach para os visitantes. No anexo é possível transitar pela obra de Bach. Num quarto escuro é projetado um filme numa tela de 180º, acompanhado por composições de Bach para órgão.
Renascimento de Bach no romantismo
O filme mais recente é uma versão blockbuster de A paixão segundo São Mateus, realizada pelo diretor Christoph Spering e que apresenta a famosa versão de Mendelssohn da peça. Em 1892, Felix Mendelssohn Bartholdy, então com apenas 20 anos, apresentou a peça na presença do rei prussiano e de sua corte, do filósofo Hegel, do poeta Heinrich Heine e de outros ilustres da época. Sua interpretação da obra prima de Bach deu início a um verdadeiro renascimento do mestre.
Reconstituição em computador do rosto de Johann Sebastian Bach |
"O novo interesse pela música de Bach, e também que ele tenha sido alçado a um pedestal em nível nacional, sendo repentinamente celebrado como compositor e gênio alemão: tudo isso surge a partir desse acontecimento em Berlim", lembra Hansen.
Louvor a Deus
Bach era um homem de fé, mas não era um santo, como se pode aprender ao visitar o museu. Bach chegou a brigar fisicamente com seus alunos e chegou a ser preso em Weimar por ter se comportado de maneira "insubordinada e teimosa" com um de seus patrões. Quando compunha, esquecia o mundo ao seu redor e criava suas obras em louvor a Deus.
Não é de admirar, portanto, que o músico protestante tenha deixado um monumento musical para o reformista Lutero. O próprio Lutero escreveu vários cânticos, reunidos no primeiro hinário em língua alemã. Este, por sua vez, foi musicado por Bach.
Isso e muito mais pode ser descoberto durante uma visita à Casa de Bach. "Você tem que sentar aqui, pegar os fones de ouvido e ouvir a música. Pois é essa música maravilhosa que traz as pessoas aqui", completa Hansen.
Extraído do sítio Deutsche Welle
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