O Arquivo Nacional inaugurou a exposição O Mundo Luso-Brasileiro, com documentos originais e reproduções, abrangendo um significativo e diversificado acervo documental da instituição que vai do século XVI ao XIX, do período da colônia à independência. Foto: Tomaz Silva/ABr |
A memória da cultura luso-brasileira a partir do século XVI é o foco da exposição O Mundo Luso-Brasileiro, inaugurada no dia 26 de agosto no Arquivo Nacional, no centro do Rio de Janeiro.
Para a historiadora Cláudia Heyneman – que, com a colega Vivien Ishaq, fez a curadoria –, a exposição é a possibilidade de se contar a história do império ultramarino português, que, na avaliação dela, talvez seja o maior da época moderna.
“Esse império tem histórias contidas que vão desde a ocupação dos holandeses, o tráfico de escravos, os viajantes, as ideias perigosas, quando se pretende romper com Portugal, até os princípios da ciência”, explicou.
A exposição apresenta documentos originais e reproduções do período da colônia à independência do Brasil, produzidos entre o fim do século XVI e o início do século XIX. Além de percorrer a expansão de Portugal pelo mundo – com a colonização de Macau, na China, e de Diu, na Índia –, mostra também a determinação portuguesa no período de propagar a religião católica.
Presença holandesa no nordeste do Brasil
A presença holandesa no chamado Novo Mundo – durante a primeira metade do século XVII – é marcante na exposição. “Com mais liberdade religiosa e outras liberdades. Embora os holandeses mantenham toda a questão da escravidão, não se pode negar que é um período também de maior liberdade de pesquisa científica. Eles constroem um observatório astronômico”, disse Cláudia Heyneman. Será exibido um vídeo com imagens extraídas de livros raros dos séculos XVII e XVIII.
Tratado de paz com Napoleão
Entre os documentos originais, o público vai poder ver o tratado de paz entre Portugal e França, – a chamada Paz de Madri, assinada em 1801 – pelo então primeiro-cônsul Napoleão Bonaparte e que provocou o fechamento dos portos portugueses aos navios ingleses. A curadora disse que, quando se fala na vinda da corte portuguesa ao Brasil, ocorrida em 1808, é costume pensar na aliança entre Portugal e Inglaterra e na invasão francesa em terras portuguesas, mas, antes disso, Portugal viveu um momento difícil causado pela pressão da Espanha, da França e da Inglaterra na disputa do continente europeu.
“Encontrar um documento com a própria assinatura de Napoleão em que Portugal, naquele momento, fecha os seus portos à Inglaterra, é politicamente muito interessante em ver quanto um pequeno reino fez política para salvaguardar o seu império”, explicou.
As missões científicas e o cotidiano da escravidão
A vida brasileira da época é retratada nas obras do pintor francês Jean Baptiste Debret, além das cenas pintadas pelos naturalistas alemães Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich von Martius, integrantes da missão científica austríaca que esteve no Brasil entre 1817 e 1820.
A historiadora informou que a exposição tem uma prancha da Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, nome do livro de pinturas de Debret, em que ele mostra, por exemplo, os vendedores de arruda nas ruas do Rio de Janeiro colonial. “Debret foi talvez o maior artista desse período, porque ele pegou essas cenas de cotidiano e prestou particular atenção aos escravos, mostrando a condição em que eles estavam naquela sociedade”, disse.
A primeira Constituição do Brasil, de 1824
Na avaliação de Cláudia Heyneman, o auge da exposição, após as transformações que acontecem em Portugal, é a chegada da corte portuguesa no início do século XIX, quando começa um novo tempo para o Brasil, transformado em um império independente em 1822 por Dom Pedro I.
Raramente exposta ao público, o original da Constituição brasileira de 1824, outorgada por Dom Pedro I, é o destaque em um dos salões da exposição. Para que o visitante veja os detalhes da capa da primeira Constituição do país, feita em veludo verde com o brasão e ornamentação banhados a ouro, os organizadores puseram um espelho em baixo do exemplar para que ela possa ser melhor observada.
No juramento, o imperador começa com a defesa da fé católica, enquanto a atual Constituição do Brasil, datada de 1988, determina o Estado laico. “Não se concebia o Estado sem a Igreja Católica. Era uma relação orgânica e indissolúvel”, disse a historiadora sobre o Estado imperial brasileiro, que durou até 1889.
Com entrada franca, a exposição no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro vai até o fim de outubro.
Extraído do sítio Ventos da Lusofonia
Extraído do sítio Ventos da Lusofonia
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