Encontra-se esse livro em qualquer estação de estrada de ferro, num pequeno recinto construído especialmente para guardá-lo. As chaves da porta "estão em poder do guarda"; na realidade, porém, não se precisa de chave alguma, pois o tal recinto nunca está trancado. Abra o livro e leia:
"Excelentíssimo senhor! É para experimentarmos a pena aqui?"
Sob tais palavras está desenhada uma careta com nariz comprido e chifrinhos. Embaixo, lê-se:
"Tu és um quadro, eu - um retratão, tu és um safado, eu - não. Sou o teu focinho."
"Chegando a esta estação e olhando a natureza pela janela, voou-me o chapéu da cabeça. I. Iármonkin."
"Não sei quem escreveu, mas é tonto quem leu".
"Como recordação da minha passagem por aqui. Kalovroiev, chefe da estação de reclamações."
"Apresento à direção desta a minha queixa contra o chefe de trem Kútchkin, pelo tratamento grosseiro para com a minha esposa. A minha esposa em absoluto fazia barulho; até pelo contrário, esforçava-se por impor o silêncio. Também contra o guarda Kliátvin, que me agarrou brutalmente por um ombro. Tenho domicílio na propriedade de Andriêi Ivanovitch Ichtchêiev, que conhece o meu comportamento. Samolutchyev, empregado de escritório."
"Nikandrov é socialista!"
"Encontrando-me ainda sob o impacto do revoltante ato...(riscado). Passando por esta estação, fiquei revoltado até o fundo da minha alma com o seguinte... (riscado). Perante os meus olhos, transcorreu o seguinte e revoltante fato, que retrata com cores vivas o estado em que se encontram as nossas ferrovias...(de tudo o que se segue, sé não está riscada a assinatura) Alieksiêi Zúdiev, aluno do sétimo ano do Liceu de Kursk."
"À espera da partida do trem, eu contemplei a fisionomia do chefe da estação e não gostei dela nem um pouquinho. Faço saber isso a todos. Um veranista impávido."
"Eu sei quem escreveu isso. Foi M.D."
"Senhores! Tioltsévski é um trapaceiro!"
"Ontem a mulher do guarda foi passear na outra margem do rio, em companhia de Kostka, o garçom. Desejamos-lhes bom divertimento. Não desanime, seu guarda!"
"Transitando por esta estação e estando faminto e meditabundo naquilo que poderia comer, não encontrei nada da alimentação prescrita para os dias magros. Diácono Dúkhov."
"Mete no bucho o que encontrares!"
"Quem achar uma cigarreira de couro, queira entregá-la ao bilheteiro Andriêi Iegóritch."
"Já que me mandaram embora por acharem que vivo na bebedeira, declaro que todos vocês são vigaristas e ladrões. Kosmodicmiásnki, telegrafista."
"Cubram-se de virtudes."
"Kátienka, eu a amo loucamente!"
"Solicito que no livro de reclamações se escrevam apenas coisas pertinentes. Ivan Sétimo, em nome do chefe da estação."
"Embora o sétimo, és apenas mais um tonto."
1884
In "O Violino de Rothchild e outros contos" - Trad. Noé Silva - Ed. Veredas, 1991.
Extraído do sítio Lumiarte
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