1
Corpo já lavrado
eqüidistante da semente
é trigo
é joio
milho híbrido
massambala
resiste ao tempo
dobrado
exausto
sob o sol
que lhe espiga
a cabeleira.
2
O ventre semeado
deságua cada ano
os frutos tenros
das mãos
(é feitiço)
nasce
a manteiga
a casa
o penteado
o gesto
acorda a alma
a voz
olha pra dentro do silêncio milenar.
3
Um soluço quieto
desce
a lentíssíma garganta
(rói-lhe as entranhas
um novo pedaço de vida)
os cordões do tempo
atravessam-lhe as pernas
e fazem a ligação terra.
Estranha árvore de filhos
uns mortos e tantos por morrer
que de corpo ao alto
navega de tristeza
as horas.
4
O risco na pele
acende a noite
enquanto a lua
(por ironia
ilumina o esgoto
anuncia o canto dos gatos)
De quantos partos se vive
para quantos partos se morre
um rito espera-se faca
na garganta da noite
recortada sobre o tempo
pintada de cicatrizes
olhos secos de lágrimas
Domingo, organiza a cerveja
de sobreviver os dias.
Nota: Mukai = mulher
Nota: Mukai = mulher
ANA PAULA RIBEIRO TAVARES, nasceu no Lubango, província da Huíla, em 3 de outubro de 1952. Licenciada em História, é funcionária da Secretaria de Estado da Cultura. Obteve o grau de Mestre em Literaturas Africanas pela Universidade de Lisboa.É membro da União dos Escritores Angolanos e autora de um caderno de poesia intitulado, RITOS DE PASSAGEM. Obra poética: Ritos de Passagem, Luanda, União dos Escritores Angolanos; 1985; O Lago da Lua, Lisboa, Editorial Caminho, 1999; Dizes-me coisas amargas como os frutos, Lisboa, Editorial Caminho, 2001.
Extraído do sítio Jornal de Poesia
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